Porque a informação tem sido parca e os acontecimentos nos parecem relevantes, um local onde se reúnem documentos.

São tão necessários quanto bem-vindos todos os contributos, independentemente das posições ou perspectivas assumidas perante os factos, para faladagrecia@gmail.com.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

13 de Janeiro de 2009


Notícias:


International mainstream media report this morning that the planned US shipment of ammunition from Greece to Israel has been canceled. The reason for this is still a bit unclear: While the international media claim the decision was made by the Pentagon in light of the proximity of the Israeli port of Ashdod (the shipment’s destination) to Gaza, Greek mainstream media paint a very different story: According to this, the shipment has been called off by the Greek government - here’s a translation of an abstract from the news as carried by news portal in.gr:

As reported in the newspaper Ta Nea (The News), for hours the phone lines between Washington and Athens were on fire until it was decided, on Monday, that at this point the operation publically announced by the American Navy should not go ahead.

The decision came despite the fact that outside the greek port of Astakos was a ship of the American Navy that would be used to transport the shipment in 235 containers.

The greek government and the ministry of foreign affairs have been uneasy about the publicity received by the issue and so, despite the (political and legal) commitments in place, the huge political cost of the operation outweigh them, since the country would have been directly implicated in the forwarding of ammunition to Israel whilst its attack on the Gaza strip is ongoing.

On Saturday (10.01), the Popular front for the Liberation of Palestine had called upon “the Greek movement, the Greek people and all international progressive forces to halt the planned shipment of U.S. arms to Israel from the Greek port of Astakos” (read the full callout here). During the following two days, tens of groups across the country responded to the callout, by calling in turn for a demonstration and blockade of the port of Astakos for Thursday, 15.01.

Only one day later, the shipment has been canceled! A small, but so significant victory… Comradely greetings to our brothers and sisters in Gaza.

(http://www.occupiedlondon.org)


Les Etats-Unis ont dû annuler la livraison prévue de munitions dans un entrepôt américain en Israël depuis un port grec, face aux objections d’Athènes, selon un porte-parole du Pentagone.

“The workers will have the last word - not the media bosses”



Artigos:

(Post a propósito do debate sobre a revolta na Grécia que teve lugar a livraria Pó dos Livros)

A outra face não

O sectarismo é uma tentação demasiado irresistível quando falo do Daniel Oliveira para poder resistir. Este e o Rui Tavares tentaram transformar um debate sobre a(s) revolta(s) na Grécia numa extensão da discussão sobre a violência no combate político. A leviandade dos argumentos – travando o debate como se fosse na tribuna pública do “Eixo do mal” - disfarçada pela convicção esforçada não esconde as banalidades transformadas em grandes verdades políticas. O conceito de violência de Daniel Oliveira baseia-se na capacidade/possibilidade de impor medo, escamoteando qualquer utilização da violência em contextos de resistência ou de confrontação com um inimigo que utiliza as mais sofisticadas tecnologias repressivas. Provavelmente porque Oliveira vê a Política como um jogo onde adversários disputam o Poder e não como uma transversalidade da realidade em que a disposição do Poder implica confrontação (violenta ou pacífica) no sentido de diminuir a efectividade e/ou destruir os aparelhos de repressão. A resposta parece emergir de uma qualquer nebulosa criativa, de práticas que Daniel Oliveira nunca explica quando de forma maniqueísta diferencia violência e criatividade e, também, inteligência e violência. As banalidades não são menos inócuas quando repetidas convictamente. As práticas marginais ao Estado de Direito parecem ser a besta negra de Daniel Oliveira, talvez porque, ao contrário dos que lutam na Grécia, em Oaxaca ou no Nepal, não vê construção política e disposição do Poder para além do Estado. Parece ser sempre um problema de governamentalidade.

"Paco" Menéndez
http://www.spectrum.weblog.com.pt/

12 de Janeiro de 2009


Artigos:

Le malaise d’une génération - Véronique Soulé


Testemunhos:

Diário de Atenas VI

Dia 6
Brandos costumes?
O que acontece nas faculdade gregas dificilmente aconteceria em Portugal. Não porque não haja razões objectivas para o descontentamento. Não porque os portugueses sejam um povo de “brandos costumes” ou porque exista qualquer “essência nacional” que nos empurre para o conformismo. A razão essencial porque isto não aconteceria, para além das diferenças históricas – nomeadamente em termos de movimentação estudantil e de culturas de luta – é porque o processo de liberalização da educação está, em Portugal, muito mais avançado que na Grécia. E liberalização não é apenas propinas altas. Liberalização significa que não há tempo para discutir, que a pressão para “não perder tempo” com coisas tão “desnecessárias” a uma universidade quanto debater o mundo e a vida é muitíssimo maior. Significa que a relação dos estudantes com aquele espaço é tendencialmente a relação de um cliente com um serviço pelo qual paga – e portanto, que tem de consumir rápido e sem se distrair com outras coisas. Significa que o espaço para o pensamento crítico vai sendo cada vez mais tomado pelo espaço do mercado. E quando em Portugal nos impuseram as propinas, as fundações, as “receitas próprias” ou a recuperação das velhas tradições académicas, não era apenas para “poupar dinheiro” ao Estado. Era a própria democracia que se queria expulsar das escolas.
O fim do consenso
Há muitas formas de olhar para a realidade grega. A dificuldade de uma revolta como esta é que não tem uma tradução política imediata. É provável que, depois de mais de um mês de conflitos de rua e com uma fortíssima campanha conservadora dos media e da generalidade das forças politicas gregas, a maioria da opinião pública esteja contra o movimento. Mas o que se passa na Grécia é mais profundo. É um enorme processo de envolvimento e de politização da juventude, estudantil e precária, que é, em si mesmo, transformador. É um grito de revolta contra a brutalidade da repressão. E parece ser, de alguma forma, o fim do consenso sobre a bondade das politicas liberais. A sociedade grega está confrontada com uma realidade feroz, em que a solução apresentada para a crise é a mercantilização dos direitos e a precarização generalizada. E toda a gente começa a perceber, novos e velhos, os resultados concretos dessa escolha.
Diários de Atenas
Este diário foi o relato possível do que fomos vendo e vivendo. Acaba hoje. Foi um relato necessariamente imperfeito e parcial, um ponto de vista particular sobre o que aqui se passa. É provável que a televisão portuguesa continue a ignorar o que aqui acontece, que os jornais não dêem conhecimento dos dias de Atenas e que na net seja difícil encontrar notícias numa língua que a maior parte de nós perceba. Mas a luta na Grécia continua. Quem quiser, pode acompanhar as cenas dos próximos capítulos relatados por outras pessoas. Aqui, por exemplo: http://athens.indymedia.org/?lang=en. Ou aqui: http://www.occupiedlondon.org/blog/

Saltar as fronteiras do possível
Há muitos motivos para saltar fronteiras. O nosso, dos quatro que aqui estamos, foi tentar perceber, ainda que de forma tão limitada e incompleta, uma experiência concreta de combate e de organização. Estivemos sempre muito bem acompanhados pelos companheiros gregos que nos acolheram. Em cada acção e em cada exemplo, o que vimos rasga as fronteiras do possível. O que vimos faz-nos sentir que a realidade não é apenas o que existe, mas as possibilidades que existem da realidade ser diferente. Depende também de nós. Demasiadas vezes, arranjamos álibis para abandonarmos o campo das lutas: são também eles os nossos inimigos. Não sei o que sentimos nestes últimos dias. Sei que, intensamente, nos sentimos vivos.
Obrigado
(roubando as palavras a Marcos) “Companheiros, companheiras. Grécia revoltada. Nós, os de baixo, deste canto do mundo, saudamos-vos. Aceitem o nosso respeito e a nossa admiração pelo que estão a fazer e a pensar. De longe, estamos a aprender convosco. Obrigado”

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-vi.html

11 de Janeiro de 2009


Notícias:

Gran manifestación estudiantil en Atenas contra las reformas universitarias y el terrorismo del estado


Testemunhos:

Diário de Atenas V

Dia 5
“Não temos medo dos despedimentos. Os patrões devem ter medo das greves selvagens”
Escrevo do Sindicato dos Jornalistas, onde há net. É o sindicato único do sector, com uma direcção de direita. Acaba de ser ocupado. No terceiro andar, o auditório junta cerca de duzentas pessoas em assembleia. No comunicado dos ocupantes, jornalistas precários, afirmam-se três reivindicações: o direito a dar informação verdadeira sobre os acontecimentos, contra a manipulação do poder e dos patrões dos órgãos de comunicação social; a solidariedade com Constantina Couneva, a sindicalista precária vítima de um ataque com ácido sulfúrico; a luta contra a precariedade instalada no sector.
Ordem para abater
Pela televisão que está ligada no bar do sindicato, o Governo avisa que polícia vai endurecer a reacção. Na sequência da batalha de ontem, o tema dos telejornais é o fim do asilo de que goza a Universidade – um direito do maior simbolismo numa sociedade que assistiu à repressão e ao esmagamento dos protestos no Politécnico pela ditadura dos coronéis.
Qualquer semelhança com a (nossa) realidade não é pura coincidência
1 em cada 5 jovens gregos está desempregado. 5 a 7 anos depois da sua graduação, os jovens gregos têm maioritariamente empregos precários. 20% com contratos temporários, outros 20% a trabalhar como isolados (o equivalente aos recibos verdes) e sem direitos sociais. Muitos trabalham em áreas totalmente diferentes das dos seus estudos e em tarefas para as quais estão sobrequalificados. Cerca de 300 mil trabalham em estágios pagos pela União Europeia: as empresas não gastam um euro com eles, o tempo de trabalho não conta para a segurança social e ganham 470 euros por mês. O Estado é um dos mais activos empregadores de precários: em 2007, só 30% dos novos trabalhadores no sector público tinha contrato permanente, sendo a maioria trabalhadores temporários. A inspecção do trabalho não actua e diz-nos um sindicalista que se tiver 100 inspectores para todo o país será já muito...
Lá vêm os radicais de esquerda...
“Os nossos jovens não estão revoltados por nada. A juventude não só sente as limitações do presente que nós – os seus pais naturais ou institucionais – lhes damos, mas também protestam pelo roubo e pela destruição do seu futuro (...) A resposta para todos os problemas com que a juventude se confronta não é a aceitação do vandalismo. Mas também não é a repressão de qualquer protesto. O protesto é uma necessidade e um direito”.
A frase não é de nenhum “esquerdista”. Nem de nenhum “intelectual radical” alimentado pelo “ódio à democracia liberal” ou por “tentações totalitárias”. Nem de nenhum “irresponsável” sempre disposto a “legitimar a violência” dos protestos. Nem de nenhum “sociólogo” sempre disponível para “compreender as razões” do fenómeno e atribuir a causa das coisas à sociedade e às escolhas políticas e económicas. Não. É uma declaração pública de Ieronimos, Arcebispo de Atenas e da Grécia, o chefe máximo da Igreja Ortodoxa neste país.
Definição de violência 2
Amanhã haverá outra manifestação em Atenas. É um protesto e uma lembrança. Husein Zahidul tinha 24 anos e era imigrante. Na Grécia, um imigrante que queira legalizar-se e ter os seus documentos não vai ao registo civil ou a um Ministério, como as outras pessoas. Tem de fazê-lo na polícia e só durante um dia por semana – o sábado. Os imigrantes costumam ir para lá na véspera e passar lá a noite. É também na polícia que os imigrantes clandestinos são detidos. E, frequentemente, vítimas de negligência e de violência. A Grécia recebe milhares de imigrantes vindos dos Balcãs, do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão e de outros países. A maior parte deles está ilegal. A Grécia é ainda, e como a Amnistia Internacional tem chamado a atenção, o país da Europa que concede menos estatutos de refugiado. Entre 2003 e 2006, 40 mil pessoas pediram aqui asilo. Só 410 foram reconhecidos como tal.
Husein não estará amanhã na rua connosco. Morreu no sábado passado, 3 de Janeiro. Foi encontrado numa vala, antigo leito de um rio que já não existe e que fica em frente da esquadra da polícia. A polícia, essa, diz que foi ele que se atirou. É o terceiro nos últimos meses.

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-v.html

10 de Janeiro de 2009


Documentos:

PFLP: "Urgent call to Greek people: Block the shipment of US arms to Israel through Greek

The Popular Front for the Liberation of Palestine calls upon the Greek movement, the Greek people and all international progressive forces to halt the planned shipment of U.S. arms to Israel from the Greek port of Astakos. International media reports have revealed that the U.S. Navy is attempting to ship 325 20-foot containers of ammunition, over 3000 tons, in an emergency shipment of arms to aid the occupation in its ongoing war crimes against the Palestinian people in Gaza.The PFLP is calling upon the people of the world, and particularly the Greek movement to act to stop this shipment of arms. The U.S. has been attempting to hire a merchant ship to transport the weaponry to the Israelis at Asdud port in mid- to late January. This weaponry must not be allowed to enter the hands of the Israelis, where it will be used to massacre our people in Gaza! It must be stopped by all means!These bombs are going to be used in Israel's wars - against Palestinians, Lebanese, Arabs, Iranians, and the people of the region. This emergency shipment indicates that the occupier is demanding ever more weaponry in its futile war of massacres against the Palestinian people and the Palestinian resistance.The demand of the Palestinian people, the Arab people, and all progressive forces - including the progressive forces in the U.S. - is the international isolation and the end of all U.S. aid to Israel. The U.S. government, however is Israel's strategic partner, and is committed to partnering with Israel in its massacres and crimes against our people. If they will not stop the arms shipment, the people of Greece and the people of the world must stop it for them!The PFLP salutes the Greek people - your unconditional solidarity and your mass demonstrations in support of the Palestinian people have sent a strong and powerful message of support, combined with aid, volunteers, and action on the ground. Your own courageous struggles for justice have inspired us and people around the world.We are calling upon:1. All Greek companies and all shipping companies to refuse to carry any shipment of arms to Israel. Any shipping company who carries these weapons has the blood of the people of Gaza on its hands!2. Greek workers and all port workers to refuse to load the cargo for any shipment of arms to Israel. The strong hands of Greek workers and Greek labor should not be sullied with this dangerous cargo!3. The Greek government to prohibit the use of its port to ship arms to the occupation state massacring our people!4. The Greek people, the Greek movement, and all international and progressive forces to take action to stop any such shipment from loading or leaving the port of Astakos!The PFLP is calling for your continuing unconditional solidarity and support to prevent the U.S. and Israel from using the land and ports of the Greek people a supply base for occupation, massacres, and crimes.The Greek people have a proud history and present of struggle. The relationship between the Arab people and the Greek people is strong and powerful and we call upon you today to march with us once again toward victory and justice for the Palestinian people and block this arms shipment!Popular Front for the Liberation of PalestineJanuary 10, 2009



Testemunhos:

Diário de Atenas IV

“Para os Bancos dinheiro, para a juventude balas. Chegou o nosso tempo”
São milhares de pessoas que se vão concentrando em frente à Universidade. Um mar de gente. Na manifestação de hoje, há estudantes universitários. E há sindicalistas. Os professores – do ensino primário, do secundário e do superior – marcam presença com faixas próprias e o sindicato da Função Pública marcou greve para hoje. Mas a maior parte da manifestação que ocupou as ruas de Atenas é gente muito mais nova: centenas, milhares de jovens de 13, 14, 15, 16 anos. Têm a mesma idade de Alexis, o colega deles que a polícia matou.
Homens a sério?
Na cabeça da manif, vai o pessoal do Politécnico. É lá que têm acontecido os principais protestos e ocupações. É considerada a escola mais radicalizada à esquerda. Foram lá as principais assembleias, com centenas de estudantes, homens e mulheres a tomar a palavra para mudar a vida. Mas hoje quem vai à frente é uma fileira só de homens. Só homens que seguem alinhados, de escuro, com paus nas mãos e marcham ordenadamente ao som de músicas de parada militar.
“A nossa raiva transborda”
Acabada a manif, a maioria das pessoas vem embora. A polícia, estrategicamente colocada por todas a ruas, cerca os manifestantes que ficaram no final, sobretudo anarquistas. Há algumas dezenas de pessoas que se protegem dentro de um mini-mercado, situado em frente a um hospital A polícia começa a deitar gás pimenta na rua e para o mercado. O dono da mercado está do lado dos manifestantes que se protegem da polícia. Os advogados que trabalham com o movimento tentam comunicar com os jovens. Do hospital, há médicos que saem para socorrer os manifestantes. A polícia detém toda a gente e distribui porrada por quem passa. Até a um dos doentes que sai do hospital. Os manifestantes cercam a carrinha da polícia onde entretanto estão os detidos.
Liberdade
As ruas transformam-se em campo de batalha. Caixotes a arder, pedras pelo ar. Junto ao fumo, o efeito do gás lacrimogéneo é atenuado. Manifestantes, médicos e advogados detidos são levados para a sede da polícia. A convocação de nova acção é imediata. Em meia hora, mobilizam-se centenas de pessoas: serão cerca de mil os que se concentram pacificamente em protesto frente à sede geral da Polícia. Mais gás lacrimogéneo obriga as pessoas a correr. A polícia aproveita para dividir a concentração. As pessoas não desistem. Ficam a cantar e a dizer palavras de ordem. Liberdade! Não arredam pé até os detidos serem libertados.
Definição de violência
Constatina Couneva continua no hospital. Hoje foi lembrada na manif. Mulher, imigrante búlgara na Grécia, empregada de limpeza, precária a part-time, Constantina tinha todas as condições para se calar. Mas não. Fundou um sindicato único nas condições mais difíceis. Num sector marcado pelo abuso, onde os patrões se aproveitam do isolamento, do trabalho clandestino, onde as agências de trabalho temporário extorquem os trabalhadores, ela e as suas companheiras tiveram a coragem da dignidade. A Confederação Sindical Grega, que é única e hegemonizada pelo PASOK (o partido socialista grego, um dos que alterna no poder) nunca apoiou a sério o sindicato. Desde que ela foi hospitalizada, depois de ter sido atacada com ácido sulfúrico em Dezembro, no regresso a casa, a confederação não teve um acto de solidariedade que se visse. Constantina só contou com o apoio empenhado dos estudantes, dos anarquistas e de algumas organizações da esquerda. Sabe-se que, por causa do ácido, já não vê de um olho e não consegue falar. Os patrões nunca toleraram que os precários pudessem ter uma voz.

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-iv.html

9 de Janeiro de 2009


Notícias:

Cops cut off and beat up small group of protestors
Massive Athens demo ends; people retreat in the university; air gun found by demonstrators; Patras and Thessaloniki demos set to start


Artigos:

Los centros de estudio, motor de la revuelta - Sakis Michanikos



Testemunhos / Artigos:

Dário de Atenas III

Dia 3

Terrorismo
Na Grécia, como em Portugal, a maior parte das pessoas que fazem limpezas trabalha para agências de trabalho temporário, que alugam mão-de-obra a outras empresas. Há um sindicato que organiza estes trabalhadores, a maioria mulheres: o sindicato ateniense de trabalhadores da limpeza e empregadas domésticas. Constantina Couneva é uma das mais militantes activistas desse sindicato – e portanto detestada pelos patrões do sector. Dois dias antes do Natal, foi atacada violentamente com ácido sulfúrico à entrada de casa. Não se identificaram ainda os agressores, mas toda a gente sabe que os empresários a odiavam. Diz-se que a justiça grega nada fará. Já passaram duas semanas e Constantina continua hospitalizada. Ao contrário do polícia alvejado, não teve milhares à porta, nem a solidariedade “consternada” do governo, nem a visita da Igreja, nem notícias nos jornais gregos nem meia página do Público.

“Fuck Mai 68. Fight Now!”
As assembleias gregas lembram as imagens do Maio francês. Não que não tenha havido outros Maios e outros PRECs. Mas Paris faz mais parte do imaginário colectivo, porque há mais registos e pôde ser vendido com a imagem romântica de uma revolução derrotada e com a saudade paternalista de quem, “no seu tempo”, acreditou que havia praia debaixo dos paralelos da rua. Acontece que a realidade é outra. O desemprego entre os jovens gregos (dos 15 aos 24 anos) era, no último semestre de 2008, de 21,4%, o maior da Europa. 70% dos jovens gregos que trabalham recebe menos que 750 euros por mês. O salário médio é hoje menor do que era em 1984, em termos relativos. E comparando os anos 80 com 2007, a distribuição de rendimento entre capital e trabalho desequilibrou-se em favor do primeiro: de 58% para 44%. Adianta pouco lembrar 68. A nossa geração, na Grécia ou em Portugal, é a primeira que sabe que viverá pior que os seus pais.
Provocações
Nas Assembleias de faculdade, que juntam centenas de estudantes em cada escola, um cartaz do KKE espalhado por todas as paredes tem a imagem de um jovem, de balas e de sangue. Poderia lembrar Alexis, o adolescente grego assassinado pela polícia. Mas não. É um cartaz sobre a Palestina. Nas quatro assembleias de hoje no Politécnico, foram aprovadas resoluções (da EAAK, da Aristeri Enotita e de outras correntes politicas estudantis) em que se apela à manifestação de amanhã, contra o Governo e a brutalidade policial. E em que se decide, sem que ninguém seja contra, pela participação na manif de sábado, contra o massacre em Gaza. O KKE está contra. Não concorda com as ocupações que ficaram decididas. Fará amanhã uma manifestação noutro local, só sobre a Palestina. E condenou a maioria das assembleias por não terem objectivos e por estarem a incentivar os “provocadores”. Da assembleia, no meio da desordem, alguém lhes perguntou: “e os que atiram pedras em Gaza, não são provocadores também?”
Ordem de Trabalhos
À porta da Assembleia Geral, pergunto a uma rapariga o que se está a discutir, qual é o tema. “Tudo. O que se discute é toda a sociedade”.
Zé Soeiro

via, http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-iii.html



Diário de Atenas (director's cut).

Em Atenas nem todos os portuguese comrades são carinhas larocas que escrevem textos queridos e engraçados sobre as assembleias onde estiveram (ainda que o autor deste texto tenha sido já várias vezes descrito como portador de um semblante aristocrático).

Atena, homónima da cidade. Também ela tem um lado menos conhecido, mais sensual e sedutor.
"Batem as 12 horas de sábado, dia 3 de janeiro de 2009. Em frente à estação de comboio/metro de Petralona, bairro residencial próximo do centro de Atenas, pessoas com afinidades anarquistas vão-se juntando. Foi convocada uma manifestação de solidariedade com uma jovem trabalhadora e sindicalista do bairro de Petralona que foi vítima de uma agressão com ácido encomendada pelos seus patrões. A sua entidade patronal é uma empresa de limpeza contratada pela companhia que gere a linha de comboio/metro de Atenas, daí o local escolhido para o protesto. Por volta da uma da tarde, são cerca de três milhares, talvez um pouco menos, talvez um pouco mais, os manifestantes que se concentram no local designado e que iniciam a marcha de protesto. O percurso é simples e não passa por qualquer grande avenida ou praça de Atenas. Circunscreve-se ao bairro de Petralona, percorrendo as suas ruas e ruelas, mas sem nunca se afastar da estação. Entre os manifestantes predomina o preto das roupas, das bandeiras e das tintas com que se vão cobrindo as paredes do bairro com frases de luta. Não há muitas caras tapadas, apenas as dos que pintam e só quando existem câmaras através das quais é possível a sua identificação. Tirando nas bandeiras e os que são inscritos nas paredes, não se vêem símbolos anarquistas ou de qualquer outra espécie. O folclore iconográfico esquerdista não tem lugar entre este grupo que se desloca gritando palavras de ordem e acenando aos moradores que vêm à janela saudar os manifestantes. Petralona é um bairro de tradição de esquerda e um dos mais activos politicamente e talvez seja essa a razão que explica a afectividade com que os manifestantes anarquistas são recebidos. Às tantas, numa das ruas em que a manifestação seguia, pétalas de rosas são largadas por alguns moradores das suas varandas sobre os manifestantes que, por sua vez, respondem com palmas e sorrisos. Ao longo do trajecto pelo bairro houve apenas um momento de tensão. De um café, em cuja montra se escrevia qualquer coisa, saiu um homem, o proprietário talvez, com uma faca em riste, reclamando com os manifestantes. Imediatamente, alguns deles rodearam o homem, a ele se dirigindo com grande agressividade e veemência. Foi necessária a intervenção de outros manifestantes e de algumas pessoas que se encontravam no interior do café para que as coisas se acalmassem e o cortejo pudesse seguir o seu caminho em direcção à estação. Aqui chegados, as coisas mudaram rapidamente. Em poucos metros, passam a ser vários os koukoulofori, expressão que na Grécia se usa para designar o que no resto da Europa se vai chamando black block. A palavra grega tem uma romântica tradução literal para qualquer coisa como “encapuçados que se mexem”. Mas continuando. Passam a ser vários, quase todos, os manifestantes que se cobrem com capuzes, máscaras, gorros, cachecóis, etc.. As bandeiras passam para a frente e lajes do passeio são arrancadas e partidas, fornecendo armas de luta e arremesso aos manifestantes. Por esta altura, já as lojas fecharam e os donos e clientes se afastaram. Uma barricada é erguida numa das extremidades da rua que dá acesso à estação, sendo colocada entre os manifestantes e o corpo de intervenção da polícia que desde o início seguia de longe a manifestação mas que nesta altura se tentava aproximar. Feita a barricada e preparados que estão os manifestantes para enfrentar a polícia, passa-se à concretização da acção que os tinha reunido neste dia: o ataque à estação, propriedade da companhia que gere as linhas de comboio/metro de Atenas e onde tem actividade a empresa da trabalhadora atacada. A tensão é grande e às movimentações da polícia, respondem os manifestantes desafiando-a com palavras de revolta e um rufar sacado das bandeiras no chão, em contentores do lixo ou num gradeamento que ladeia a rua. Os manifestantes não recuam e a polícia não avança. Enquanto polícia e manifestantes se avaliam e controlam, um grupo destes entra na estação, munido de escadotes e outras ferramentas, para aí deixar a sua marca de protesto e revolta. A polícia, que consegue ver o grupo de manifestantes a entrar na estação, nada faz, limitando-se a aguentar a sua posição diante dos manifestantes e da barricada por estes levantada. Um confronto poderá ter consequências maiores e mais graves do que as que eventualmente resultarão do ataque à estação e a polícia parece fazer permanentemente essa avaliação. Em poucos minutos o grupo da estação está de regresso, manifestando aos que aguentaram o corpo policial o sentido do dever cumprido. A acção está concluída e agora resta seguir até ao local onde a manifestação deverá terminar, assegurando que ninguém fica para trás e é apanhado pela polícia que ainda se mantém à distância. Impressiona a capacidade de organização e o espírito de união dos manifestantes, condições que ajudam a explicar a dimensão e força da revolta que desde os primeiros dias de dezembro tem assolado a Grécia. Nesta parte final do percurso, as caras voltam a descobrir-se e as ferramentas usadas desaparecem sem disso se dar conta. A manifestação chega depois ao fim e os manifestantes rapidamente abandonam o espaço e se misturam entre os turistas e outras pessoas que circulam pelas movimentadas ruas de Atenas. Correu tudo conforme planeado. Não houve detenções e a estação ficou marcada por uma luta que veio para durar. Assim parece, pelo menos."

Party Program

http://www.spectrum.weblog.com.pt/


Cronologia e retrospectiva:


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

8 de Janeiro de 2009

Notícias:

Fascists co-operating with the cops
“Our answer will be given on the streets”: final build-up for January 9 demonstrations


Testemunhos:

Diário de Atenas II

Dia 2

Apagaram tudo?
Chegados ao Politécnico de Atenas, o centro da contestação estudantil e o sítio onde vigora a lei do asilo (a policia está impedida pela Constituição de lá entrar sob qualquer circunstância), encontramos as paredes a serem pintadas. Dois trabalhadores tapavam com tinta branca um graffiti: “Fuck the police”. A repressão policial é uma das questões principais da mobilização. Desde a ditadura militar que há uma forte cultura anti-autoritária neste país. Os partidos do poder – PASOK e Nova Democracia – têm feito promessas sucessivas de “democratização da polícia”. Mas ela nunca aconteceu verdadeiramente: a polícia continua conotada com a extrema-direita e com uma repressão violenta. A Amnistia Internacional considerou a Grécia um dos piores países europeus no que diz respeito à violência policial. E antes dos Jogos Olímpicos de 2004, uma série de leis “anti-terroristas” reforçaram o poder e a arbitrariedade da acção policial. Os jovens e os imigrantes são, naturalmente, os primeiros alvos desta repressão. Não apenas nas manifestações, mas no dia-a-dia: identificação de pessoas, violência nas esquadras, etc.... Em Exarchia, bairro central da contestação e onde se situa o Politécnico, a policia é uma presença constante.
“Só Deus escolhe quem morre”
Ninguém esquece a morte do jovem Alexis Grigoropoulos. Um outro Alexis, desta feita Kougias e advogado do policia que assassinou o adolescente, disse na televisão, a seguir ao assassinato, que “só Deus escolhe quem morre e quem vive” e que “o Tribunal é que vai decidir se ele merecia morrer ou não”. Em quatro dias, um grupo criado no Facebook, cujo título era “Fuck Alexis Kougias” reuniu 90 mil membros. A net é um ponto de encontro – e um lugar de mobilização na revolta de Atenas.

José Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-ii.html



Artigos:

O que diz Soeiro

Li com choque e pavor as entradas no diário ateniense do jovem deputado do bloco. Assim à primeira vista não têm nada de muito surpreendente e não me causam incómodo de maior. O que me chama mais a atenção na sua leitura é o constante esforço de «tradução» do que acontece em Atenas para a cultura política de José Soeiro e dos jovens do bloco, fazendo-me recordar a reportagem publicada no verão sobre o seu acampamento. Tudo é lido à luz desta mistura difusa de escutismo, comércio justo, boa vontade e entusiasmo kitsch, em que se aspira a «um mundo melhor» e se tem a preocupação de ser «pedagógico». Ficamos com a sensação de que Soeiro, quando deixa cair um copo de sumo de maçã em casa de alguém, diz «chiça» em vez de «fôda-se», para não ferir qualquer susceptibilidade.Note-se a preocupação do primeiro dia: "Por isso, também os estudantes terão de arranjar formas criativas - e preferencialmente à escala europeia - para manter o conhecimento na esfera não mercantil dos direitos." Temos dificuldades em compreender o que poderá ser a esfera mercantil dos direitos, mas numa frase em que se fala de «formas criativas e preferencialmente à escala europeia», seria quase mesquinho ir por aí. Sabemos que este tipo de formulações aponta quase sempre para a repetição em Portugal do que alguém viu fazer num qualquer Fórum Social Europeu ou manifestação londrina/parisiense/romana contra a privatização do ensino. Sabemos, no fundo, que é tanto menos criativa quanto aspira à escala europeia, mas como querer mal a um entusiasmo tão juvenil? Ele parece mesmo acreditar nestas coisas e isso já é uma vantagem em relação aos jovens que o precederam.

O que se torna problemático é a posição do «portuguese comrade» que tenta «explicar» aos gregos o que mais lhes convém, apesar de ter caído ali de pára-quedas e de não falar nem compreender a língua em que se debate nas assembleias. A imagem de uma assembleia estudantil transformada em mini-parlamento - em que "as intervenções são feitas pela ordem de representatividade das correntes politicas estudantis" - não parece coincidir muito com as discrições que se lêm noutros sítios. Mas registe-se a candura, Soeiro explica que estão a ser apresentados pelos media como «animais» (sic) e é aplaudido por todos, menos por um grupo de anarquistas (cinco, para ser mais concreto) que o «vetam» sem qualquer razão aparente, apesar das afirmações seguintes parecerem dar-lhes bastantes razões para o seu veto: "É pena, porque aquelas imagens mereciam ser vistas. Dizem muito mais sobre o que se passa do que qualquer montra partida." Neste ponto acompanho plenamente os cinco anarquistas da assembleia de arquitectura. As montras partidas dizem muito mais sobre o que se passa do que qualquer texto que José Soeiro publique no Esquerda.net E se os participantes na assembleia soubessem que Soeiro é deputado de um partido que recorre a esquemas como este, talvez a simpatia polida para com os «portuguese comrades» tivesse sido um pouco mais azeda. Este paternalismo de quem acha que sabe perfeitamente o que merece ou não ser visto, o que reflecte ou não o espírito do movimento, juntamente com este imaginário político que não vive sem arrumar tudo em gavetinhas bem etiquetadas (os representantes de cada facção estudantil como epicentro da assembleia) e que nem sequer renunciou à ritual denúncia do partido comunista, que não acompanha o movimento e que portanto é etiquetado de «partido da ordem», como se a «esquerda radical» com que simpatiza José Soeiro não tivesse feito o mesmo, como pudemos ler no esquerda.net: "Saudamos os estudantes, rapazes e raparigas, todos os jovens que não escondem a cara. [...] O nosso alvo é o sistema, e as suas injustiças para com a juventude. O nosso alvo não são as montras, os carros, as residências, os edifícios públicos. Estamos inequivocamente contra a violência cega."O nosso alvo é o sistema. Quanta ternura...

Rick Dangerous

7 de Janeiro de 2009


Notícias:

La Grèce procède à un large remaniement ministériel


A REVOLTA NA GRÉCIA debate organizado pela unipopDos primeiros-ministros europeus ao mais anónimos militantes e activistas, os acontecimentos ocorridos na Grécia em início de Dezembro de 2008, e cuja irresolução parece prolongar-se nestes primeiros dias de 2009, mereceram atenção generalizada e têm sido pretexto para vários debates. Estes debates, entre outros pontos, tocam as seguintes questões: a motivação dos revoltados e a diversidade de grupos envolvidos nos protestos; a hipótese de um novo ciclo de lutas, caracterizadas por novas práticas, novos protagonistas e novas ideias, estendendo-se de Los Angeles a Atenas, passando por Seattle, Génova e Paris; a relação entre a polícia, a violência, a política e os movimentos; o renascimento de uma cultura política insurreccional; a posição das diferentes esquerdas políticas ante os acontecimentos; etc.
Para discutir estas e outras questões relativas à revolta na Grécia, convidamos todos os interessados a aparecerem na Livraria Pó dos Livros, no dia 13 de Janeiro, terça-feira, às 18h30. O debate é organizado pela unipop, que, para o efeito, convidou – e eles aceitaram – o Daniel Oliveira, o Nuno Ramos de Almeida, o Ricardo Noronha e o Rui Tavares.
A Livraria Pó dos Livros fica na Av. Marquês de Tomar, n.º 89.Para uma melhor localização da livraria:http://arquivopodoslivros.blogspot.com/2008/03/estamos-aqui.html
Via : http://u-ni-pop.blogspot.com/



Testemunhos:

Diário de Atenas 1

Regresso às aulas ou “ninguém nas aulas, todos na rua”?
Amanhã é o dia do regresso às aulas. As faculdades que estiveram ocupadas estão a ser pintadas e reconstruídas pelo Governo, que tenta apagar as marcas da revolta. Para amanhã, estão marcadas várias assembleias, que decidirão como vai continuar o protesto. Para já, está também agendada uma manifestação em toda a Grécia para sexta-feira. No fim do ano, quando começaram as férias de Natal, os estudantes despediram-se do poder com o seguinte slogan: Merry Crisis and a Happy New Fear. Amanhã veremos se tinham razão. E qual o impacto do que aconteceu anteontem.
O policia assassinado e as expectativas para dia 9
Anteontem, um policia de 21 anos foi alvejado por uma metralhadora MP5 e uma Kalashnikov. Diz-se que a acção foi perpetrada por um grupo chamado Luta Revolucionária, mas na verdade não foi reivindicada por ninguém. Do que nos disseram, trata-se de uma acção isolada e feita por um grupo sem nenhuma ligação ao movimento. A esquerda radical, nomeadamente a SYRIZA, que tem estado com a revolta dos jovens, já condenou o ataque. Ontem, alguns milhares de pessoas concentraram-se em frente ao hospital onde está o polícia. A Igreja recebeu palmas na visita que lhe fez. O Governo deve estar contente: agora é muito mais fácil justificar uma onda repressiva sobre os que protestam contra a precariedade e contra a violência policial que assassinou o jovem Grigoropoulos.
As expectativas em relação à manifestação são assim condicionadas por este episódio. Pode acontecer que a policia tenha uma acção mais violenta e repressiva. Pode acontecer que uma parte dos manifestantes, que tem sido alvo de buscas e intimidação nos últimos dias, tenha uma reacção mais violenta na manif. Pode acontecer que haja mais gente, também contra a manipulação. Pode acontecer que haja menos gente, pelo isolamento da revolta ou por temerem que a tensão degenere em violência.
Quem não tem cão, caça com gato
No ano passado, um enorme protesto que atravessou as universidades gregas conseguiu derrotar o governo e fazer recuar a proposta de revisão constitucional que previa a possibilidade de ensino privado na Grécia. Neste país, o ensino superior é público e gratuito. Face à força da mobilização estudantil, essa reforma que abria as portas da educação aos privados não passou. Mas a luta mantém-se. A estratégia do negócio percebeu que se não podia caçar com cão, podia caçar com gato: o que agora acontece é que há uma espécie de “franchising” de Universidades privadas de outros países europeus que abrem filiais na Grécia e que, depois, certificam os estudantes com os diplomas desses países. Ainda que o ensino privado não exista na Grécia, quem frequenta estas escolas pode depois ter um diploma de outro país e trabalhar com essa qualificação na Grécia, uma vez que assim prevêem as leis europeias. Dessa forma, contorna a lei grega que protege a educação da invasão do mercado. Por isso, também os estudantes terão de arranjar formas criativas – e preferencialmente à escala europeia – para manter o conhecimento na esfera não mercantil dos direitos.
Eles lá é mais bombas...O Governo grego gastou todo o stock de gás lacrimogéneo que tinha, na repressão das manifestações do mês de Dezembro. Segundo se conta por cá, pediu ao Governo israelita que lhe dispensasse algum, para ser utilizado no próximo dia 9, mas que já foi testado nas manifestações que existiram aqui em Atenas contra a invasão israelita e o genocídio em Gaza.

José Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas.html