Porque a informação tem sido parca e os acontecimentos nos parecem relevantes, um local onde se reúnem documentos.

São tão necessários quanto bem-vindos todos os contributos, independentemente das posições ou perspectivas assumidas perante os factos, para faladagrecia@gmail.com.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

13 de Janeiro de 2009


Notícias:


International mainstream media report this morning that the planned US shipment of ammunition from Greece to Israel has been canceled. The reason for this is still a bit unclear: While the international media claim the decision was made by the Pentagon in light of the proximity of the Israeli port of Ashdod (the shipment’s destination) to Gaza, Greek mainstream media paint a very different story: According to this, the shipment has been called off by the Greek government - here’s a translation of an abstract from the news as carried by news portal in.gr:

As reported in the newspaper Ta Nea (The News), for hours the phone lines between Washington and Athens were on fire until it was decided, on Monday, that at this point the operation publically announced by the American Navy should not go ahead.

The decision came despite the fact that outside the greek port of Astakos was a ship of the American Navy that would be used to transport the shipment in 235 containers.

The greek government and the ministry of foreign affairs have been uneasy about the publicity received by the issue and so, despite the (political and legal) commitments in place, the huge political cost of the operation outweigh them, since the country would have been directly implicated in the forwarding of ammunition to Israel whilst its attack on the Gaza strip is ongoing.

On Saturday (10.01), the Popular front for the Liberation of Palestine had called upon “the Greek movement, the Greek people and all international progressive forces to halt the planned shipment of U.S. arms to Israel from the Greek port of Astakos” (read the full callout here). During the following two days, tens of groups across the country responded to the callout, by calling in turn for a demonstration and blockade of the port of Astakos for Thursday, 15.01.

Only one day later, the shipment has been canceled! A small, but so significant victory… Comradely greetings to our brothers and sisters in Gaza.

(http://www.occupiedlondon.org)


Les Etats-Unis ont dû annuler la livraison prévue de munitions dans un entrepôt américain en Israël depuis un port grec, face aux objections d’Athènes, selon un porte-parole du Pentagone.

“The workers will have the last word - not the media bosses”



Artigos:

(Post a propósito do debate sobre a revolta na Grécia que teve lugar a livraria Pó dos Livros)

A outra face não

O sectarismo é uma tentação demasiado irresistível quando falo do Daniel Oliveira para poder resistir. Este e o Rui Tavares tentaram transformar um debate sobre a(s) revolta(s) na Grécia numa extensão da discussão sobre a violência no combate político. A leviandade dos argumentos – travando o debate como se fosse na tribuna pública do “Eixo do mal” - disfarçada pela convicção esforçada não esconde as banalidades transformadas em grandes verdades políticas. O conceito de violência de Daniel Oliveira baseia-se na capacidade/possibilidade de impor medo, escamoteando qualquer utilização da violência em contextos de resistência ou de confrontação com um inimigo que utiliza as mais sofisticadas tecnologias repressivas. Provavelmente porque Oliveira vê a Política como um jogo onde adversários disputam o Poder e não como uma transversalidade da realidade em que a disposição do Poder implica confrontação (violenta ou pacífica) no sentido de diminuir a efectividade e/ou destruir os aparelhos de repressão. A resposta parece emergir de uma qualquer nebulosa criativa, de práticas que Daniel Oliveira nunca explica quando de forma maniqueísta diferencia violência e criatividade e, também, inteligência e violência. As banalidades não são menos inócuas quando repetidas convictamente. As práticas marginais ao Estado de Direito parecem ser a besta negra de Daniel Oliveira, talvez porque, ao contrário dos que lutam na Grécia, em Oaxaca ou no Nepal, não vê construção política e disposição do Poder para além do Estado. Parece ser sempre um problema de governamentalidade.

"Paco" Menéndez
http://www.spectrum.weblog.com.pt/

12 de Janeiro de 2009


Artigos:

Le malaise d’une génération - Véronique Soulé


Testemunhos:

Diário de Atenas VI

Dia 6
Brandos costumes?
O que acontece nas faculdade gregas dificilmente aconteceria em Portugal. Não porque não haja razões objectivas para o descontentamento. Não porque os portugueses sejam um povo de “brandos costumes” ou porque exista qualquer “essência nacional” que nos empurre para o conformismo. A razão essencial porque isto não aconteceria, para além das diferenças históricas – nomeadamente em termos de movimentação estudantil e de culturas de luta – é porque o processo de liberalização da educação está, em Portugal, muito mais avançado que na Grécia. E liberalização não é apenas propinas altas. Liberalização significa que não há tempo para discutir, que a pressão para “não perder tempo” com coisas tão “desnecessárias” a uma universidade quanto debater o mundo e a vida é muitíssimo maior. Significa que a relação dos estudantes com aquele espaço é tendencialmente a relação de um cliente com um serviço pelo qual paga – e portanto, que tem de consumir rápido e sem se distrair com outras coisas. Significa que o espaço para o pensamento crítico vai sendo cada vez mais tomado pelo espaço do mercado. E quando em Portugal nos impuseram as propinas, as fundações, as “receitas próprias” ou a recuperação das velhas tradições académicas, não era apenas para “poupar dinheiro” ao Estado. Era a própria democracia que se queria expulsar das escolas.
O fim do consenso
Há muitas formas de olhar para a realidade grega. A dificuldade de uma revolta como esta é que não tem uma tradução política imediata. É provável que, depois de mais de um mês de conflitos de rua e com uma fortíssima campanha conservadora dos media e da generalidade das forças politicas gregas, a maioria da opinião pública esteja contra o movimento. Mas o que se passa na Grécia é mais profundo. É um enorme processo de envolvimento e de politização da juventude, estudantil e precária, que é, em si mesmo, transformador. É um grito de revolta contra a brutalidade da repressão. E parece ser, de alguma forma, o fim do consenso sobre a bondade das politicas liberais. A sociedade grega está confrontada com uma realidade feroz, em que a solução apresentada para a crise é a mercantilização dos direitos e a precarização generalizada. E toda a gente começa a perceber, novos e velhos, os resultados concretos dessa escolha.
Diários de Atenas
Este diário foi o relato possível do que fomos vendo e vivendo. Acaba hoje. Foi um relato necessariamente imperfeito e parcial, um ponto de vista particular sobre o que aqui se passa. É provável que a televisão portuguesa continue a ignorar o que aqui acontece, que os jornais não dêem conhecimento dos dias de Atenas e que na net seja difícil encontrar notícias numa língua que a maior parte de nós perceba. Mas a luta na Grécia continua. Quem quiser, pode acompanhar as cenas dos próximos capítulos relatados por outras pessoas. Aqui, por exemplo: http://athens.indymedia.org/?lang=en. Ou aqui: http://www.occupiedlondon.org/blog/

Saltar as fronteiras do possível
Há muitos motivos para saltar fronteiras. O nosso, dos quatro que aqui estamos, foi tentar perceber, ainda que de forma tão limitada e incompleta, uma experiência concreta de combate e de organização. Estivemos sempre muito bem acompanhados pelos companheiros gregos que nos acolheram. Em cada acção e em cada exemplo, o que vimos rasga as fronteiras do possível. O que vimos faz-nos sentir que a realidade não é apenas o que existe, mas as possibilidades que existem da realidade ser diferente. Depende também de nós. Demasiadas vezes, arranjamos álibis para abandonarmos o campo das lutas: são também eles os nossos inimigos. Não sei o que sentimos nestes últimos dias. Sei que, intensamente, nos sentimos vivos.
Obrigado
(roubando as palavras a Marcos) “Companheiros, companheiras. Grécia revoltada. Nós, os de baixo, deste canto do mundo, saudamos-vos. Aceitem o nosso respeito e a nossa admiração pelo que estão a fazer e a pensar. De longe, estamos a aprender convosco. Obrigado”

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-vi.html

11 de Janeiro de 2009


Notícias:

Gran manifestación estudiantil en Atenas contra las reformas universitarias y el terrorismo del estado


Testemunhos:

Diário de Atenas V

Dia 5
“Não temos medo dos despedimentos. Os patrões devem ter medo das greves selvagens”
Escrevo do Sindicato dos Jornalistas, onde há net. É o sindicato único do sector, com uma direcção de direita. Acaba de ser ocupado. No terceiro andar, o auditório junta cerca de duzentas pessoas em assembleia. No comunicado dos ocupantes, jornalistas precários, afirmam-se três reivindicações: o direito a dar informação verdadeira sobre os acontecimentos, contra a manipulação do poder e dos patrões dos órgãos de comunicação social; a solidariedade com Constantina Couneva, a sindicalista precária vítima de um ataque com ácido sulfúrico; a luta contra a precariedade instalada no sector.
Ordem para abater
Pela televisão que está ligada no bar do sindicato, o Governo avisa que polícia vai endurecer a reacção. Na sequência da batalha de ontem, o tema dos telejornais é o fim do asilo de que goza a Universidade – um direito do maior simbolismo numa sociedade que assistiu à repressão e ao esmagamento dos protestos no Politécnico pela ditadura dos coronéis.
Qualquer semelhança com a (nossa) realidade não é pura coincidência
1 em cada 5 jovens gregos está desempregado. 5 a 7 anos depois da sua graduação, os jovens gregos têm maioritariamente empregos precários. 20% com contratos temporários, outros 20% a trabalhar como isolados (o equivalente aos recibos verdes) e sem direitos sociais. Muitos trabalham em áreas totalmente diferentes das dos seus estudos e em tarefas para as quais estão sobrequalificados. Cerca de 300 mil trabalham em estágios pagos pela União Europeia: as empresas não gastam um euro com eles, o tempo de trabalho não conta para a segurança social e ganham 470 euros por mês. O Estado é um dos mais activos empregadores de precários: em 2007, só 30% dos novos trabalhadores no sector público tinha contrato permanente, sendo a maioria trabalhadores temporários. A inspecção do trabalho não actua e diz-nos um sindicalista que se tiver 100 inspectores para todo o país será já muito...
Lá vêm os radicais de esquerda...
“Os nossos jovens não estão revoltados por nada. A juventude não só sente as limitações do presente que nós – os seus pais naturais ou institucionais – lhes damos, mas também protestam pelo roubo e pela destruição do seu futuro (...) A resposta para todos os problemas com que a juventude se confronta não é a aceitação do vandalismo. Mas também não é a repressão de qualquer protesto. O protesto é uma necessidade e um direito”.
A frase não é de nenhum “esquerdista”. Nem de nenhum “intelectual radical” alimentado pelo “ódio à democracia liberal” ou por “tentações totalitárias”. Nem de nenhum “irresponsável” sempre disposto a “legitimar a violência” dos protestos. Nem de nenhum “sociólogo” sempre disponível para “compreender as razões” do fenómeno e atribuir a causa das coisas à sociedade e às escolhas políticas e económicas. Não. É uma declaração pública de Ieronimos, Arcebispo de Atenas e da Grécia, o chefe máximo da Igreja Ortodoxa neste país.
Definição de violência 2
Amanhã haverá outra manifestação em Atenas. É um protesto e uma lembrança. Husein Zahidul tinha 24 anos e era imigrante. Na Grécia, um imigrante que queira legalizar-se e ter os seus documentos não vai ao registo civil ou a um Ministério, como as outras pessoas. Tem de fazê-lo na polícia e só durante um dia por semana – o sábado. Os imigrantes costumam ir para lá na véspera e passar lá a noite. É também na polícia que os imigrantes clandestinos são detidos. E, frequentemente, vítimas de negligência e de violência. A Grécia recebe milhares de imigrantes vindos dos Balcãs, do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão e de outros países. A maior parte deles está ilegal. A Grécia é ainda, e como a Amnistia Internacional tem chamado a atenção, o país da Europa que concede menos estatutos de refugiado. Entre 2003 e 2006, 40 mil pessoas pediram aqui asilo. Só 410 foram reconhecidos como tal.
Husein não estará amanhã na rua connosco. Morreu no sábado passado, 3 de Janeiro. Foi encontrado numa vala, antigo leito de um rio que já não existe e que fica em frente da esquadra da polícia. A polícia, essa, diz que foi ele que se atirou. É o terceiro nos últimos meses.

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-v.html

10 de Janeiro de 2009


Documentos:

PFLP: "Urgent call to Greek people: Block the shipment of US arms to Israel through Greek

The Popular Front for the Liberation of Palestine calls upon the Greek movement, the Greek people and all international progressive forces to halt the planned shipment of U.S. arms to Israel from the Greek port of Astakos. International media reports have revealed that the U.S. Navy is attempting to ship 325 20-foot containers of ammunition, over 3000 tons, in an emergency shipment of arms to aid the occupation in its ongoing war crimes against the Palestinian people in Gaza.The PFLP is calling upon the people of the world, and particularly the Greek movement to act to stop this shipment of arms. The U.S. has been attempting to hire a merchant ship to transport the weaponry to the Israelis at Asdud port in mid- to late January. This weaponry must not be allowed to enter the hands of the Israelis, where it will be used to massacre our people in Gaza! It must be stopped by all means!These bombs are going to be used in Israel's wars - against Palestinians, Lebanese, Arabs, Iranians, and the people of the region. This emergency shipment indicates that the occupier is demanding ever more weaponry in its futile war of massacres against the Palestinian people and the Palestinian resistance.The demand of the Palestinian people, the Arab people, and all progressive forces - including the progressive forces in the U.S. - is the international isolation and the end of all U.S. aid to Israel. The U.S. government, however is Israel's strategic partner, and is committed to partnering with Israel in its massacres and crimes against our people. If they will not stop the arms shipment, the people of Greece and the people of the world must stop it for them!The PFLP salutes the Greek people - your unconditional solidarity and your mass demonstrations in support of the Palestinian people have sent a strong and powerful message of support, combined with aid, volunteers, and action on the ground. Your own courageous struggles for justice have inspired us and people around the world.We are calling upon:1. All Greek companies and all shipping companies to refuse to carry any shipment of arms to Israel. Any shipping company who carries these weapons has the blood of the people of Gaza on its hands!2. Greek workers and all port workers to refuse to load the cargo for any shipment of arms to Israel. The strong hands of Greek workers and Greek labor should not be sullied with this dangerous cargo!3. The Greek government to prohibit the use of its port to ship arms to the occupation state massacring our people!4. The Greek people, the Greek movement, and all international and progressive forces to take action to stop any such shipment from loading or leaving the port of Astakos!The PFLP is calling for your continuing unconditional solidarity and support to prevent the U.S. and Israel from using the land and ports of the Greek people a supply base for occupation, massacres, and crimes.The Greek people have a proud history and present of struggle. The relationship between the Arab people and the Greek people is strong and powerful and we call upon you today to march with us once again toward victory and justice for the Palestinian people and block this arms shipment!Popular Front for the Liberation of PalestineJanuary 10, 2009



Testemunhos:

Diário de Atenas IV

“Para os Bancos dinheiro, para a juventude balas. Chegou o nosso tempo”
São milhares de pessoas que se vão concentrando em frente à Universidade. Um mar de gente. Na manifestação de hoje, há estudantes universitários. E há sindicalistas. Os professores – do ensino primário, do secundário e do superior – marcam presença com faixas próprias e o sindicato da Função Pública marcou greve para hoje. Mas a maior parte da manifestação que ocupou as ruas de Atenas é gente muito mais nova: centenas, milhares de jovens de 13, 14, 15, 16 anos. Têm a mesma idade de Alexis, o colega deles que a polícia matou.
Homens a sério?
Na cabeça da manif, vai o pessoal do Politécnico. É lá que têm acontecido os principais protestos e ocupações. É considerada a escola mais radicalizada à esquerda. Foram lá as principais assembleias, com centenas de estudantes, homens e mulheres a tomar a palavra para mudar a vida. Mas hoje quem vai à frente é uma fileira só de homens. Só homens que seguem alinhados, de escuro, com paus nas mãos e marcham ordenadamente ao som de músicas de parada militar.
“A nossa raiva transborda”
Acabada a manif, a maioria das pessoas vem embora. A polícia, estrategicamente colocada por todas a ruas, cerca os manifestantes que ficaram no final, sobretudo anarquistas. Há algumas dezenas de pessoas que se protegem dentro de um mini-mercado, situado em frente a um hospital A polícia começa a deitar gás pimenta na rua e para o mercado. O dono da mercado está do lado dos manifestantes que se protegem da polícia. Os advogados que trabalham com o movimento tentam comunicar com os jovens. Do hospital, há médicos que saem para socorrer os manifestantes. A polícia detém toda a gente e distribui porrada por quem passa. Até a um dos doentes que sai do hospital. Os manifestantes cercam a carrinha da polícia onde entretanto estão os detidos.
Liberdade
As ruas transformam-se em campo de batalha. Caixotes a arder, pedras pelo ar. Junto ao fumo, o efeito do gás lacrimogéneo é atenuado. Manifestantes, médicos e advogados detidos são levados para a sede da polícia. A convocação de nova acção é imediata. Em meia hora, mobilizam-se centenas de pessoas: serão cerca de mil os que se concentram pacificamente em protesto frente à sede geral da Polícia. Mais gás lacrimogéneo obriga as pessoas a correr. A polícia aproveita para dividir a concentração. As pessoas não desistem. Ficam a cantar e a dizer palavras de ordem. Liberdade! Não arredam pé até os detidos serem libertados.
Definição de violência
Constatina Couneva continua no hospital. Hoje foi lembrada na manif. Mulher, imigrante búlgara na Grécia, empregada de limpeza, precária a part-time, Constantina tinha todas as condições para se calar. Mas não. Fundou um sindicato único nas condições mais difíceis. Num sector marcado pelo abuso, onde os patrões se aproveitam do isolamento, do trabalho clandestino, onde as agências de trabalho temporário extorquem os trabalhadores, ela e as suas companheiras tiveram a coragem da dignidade. A Confederação Sindical Grega, que é única e hegemonizada pelo PASOK (o partido socialista grego, um dos que alterna no poder) nunca apoiou a sério o sindicato. Desde que ela foi hospitalizada, depois de ter sido atacada com ácido sulfúrico em Dezembro, no regresso a casa, a confederação não teve um acto de solidariedade que se visse. Constantina só contou com o apoio empenhado dos estudantes, dos anarquistas e de algumas organizações da esquerda. Sabe-se que, por causa do ácido, já não vê de um olho e não consegue falar. Os patrões nunca toleraram que os precários pudessem ter uma voz.

Zé Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-iv.html

9 de Janeiro de 2009


Notícias:

Cops cut off and beat up small group of protestors
Massive Athens demo ends; people retreat in the university; air gun found by demonstrators; Patras and Thessaloniki demos set to start


Artigos:

Los centros de estudio, motor de la revuelta - Sakis Michanikos



Testemunhos / Artigos:

Dário de Atenas III

Dia 3

Terrorismo
Na Grécia, como em Portugal, a maior parte das pessoas que fazem limpezas trabalha para agências de trabalho temporário, que alugam mão-de-obra a outras empresas. Há um sindicato que organiza estes trabalhadores, a maioria mulheres: o sindicato ateniense de trabalhadores da limpeza e empregadas domésticas. Constantina Couneva é uma das mais militantes activistas desse sindicato – e portanto detestada pelos patrões do sector. Dois dias antes do Natal, foi atacada violentamente com ácido sulfúrico à entrada de casa. Não se identificaram ainda os agressores, mas toda a gente sabe que os empresários a odiavam. Diz-se que a justiça grega nada fará. Já passaram duas semanas e Constantina continua hospitalizada. Ao contrário do polícia alvejado, não teve milhares à porta, nem a solidariedade “consternada” do governo, nem a visita da Igreja, nem notícias nos jornais gregos nem meia página do Público.

“Fuck Mai 68. Fight Now!”
As assembleias gregas lembram as imagens do Maio francês. Não que não tenha havido outros Maios e outros PRECs. Mas Paris faz mais parte do imaginário colectivo, porque há mais registos e pôde ser vendido com a imagem romântica de uma revolução derrotada e com a saudade paternalista de quem, “no seu tempo”, acreditou que havia praia debaixo dos paralelos da rua. Acontece que a realidade é outra. O desemprego entre os jovens gregos (dos 15 aos 24 anos) era, no último semestre de 2008, de 21,4%, o maior da Europa. 70% dos jovens gregos que trabalham recebe menos que 750 euros por mês. O salário médio é hoje menor do que era em 1984, em termos relativos. E comparando os anos 80 com 2007, a distribuição de rendimento entre capital e trabalho desequilibrou-se em favor do primeiro: de 58% para 44%. Adianta pouco lembrar 68. A nossa geração, na Grécia ou em Portugal, é a primeira que sabe que viverá pior que os seus pais.
Provocações
Nas Assembleias de faculdade, que juntam centenas de estudantes em cada escola, um cartaz do KKE espalhado por todas as paredes tem a imagem de um jovem, de balas e de sangue. Poderia lembrar Alexis, o adolescente grego assassinado pela polícia. Mas não. É um cartaz sobre a Palestina. Nas quatro assembleias de hoje no Politécnico, foram aprovadas resoluções (da EAAK, da Aristeri Enotita e de outras correntes politicas estudantis) em que se apela à manifestação de amanhã, contra o Governo e a brutalidade policial. E em que se decide, sem que ninguém seja contra, pela participação na manif de sábado, contra o massacre em Gaza. O KKE está contra. Não concorda com as ocupações que ficaram decididas. Fará amanhã uma manifestação noutro local, só sobre a Palestina. E condenou a maioria das assembleias por não terem objectivos e por estarem a incentivar os “provocadores”. Da assembleia, no meio da desordem, alguém lhes perguntou: “e os que atiram pedras em Gaza, não são provocadores também?”
Ordem de Trabalhos
À porta da Assembleia Geral, pergunto a uma rapariga o que se está a discutir, qual é o tema. “Tudo. O que se discute é toda a sociedade”.
Zé Soeiro

via, http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-iii.html



Diário de Atenas (director's cut).

Em Atenas nem todos os portuguese comrades são carinhas larocas que escrevem textos queridos e engraçados sobre as assembleias onde estiveram (ainda que o autor deste texto tenha sido já várias vezes descrito como portador de um semblante aristocrático).

Atena, homónima da cidade. Também ela tem um lado menos conhecido, mais sensual e sedutor.
"Batem as 12 horas de sábado, dia 3 de janeiro de 2009. Em frente à estação de comboio/metro de Petralona, bairro residencial próximo do centro de Atenas, pessoas com afinidades anarquistas vão-se juntando. Foi convocada uma manifestação de solidariedade com uma jovem trabalhadora e sindicalista do bairro de Petralona que foi vítima de uma agressão com ácido encomendada pelos seus patrões. A sua entidade patronal é uma empresa de limpeza contratada pela companhia que gere a linha de comboio/metro de Atenas, daí o local escolhido para o protesto. Por volta da uma da tarde, são cerca de três milhares, talvez um pouco menos, talvez um pouco mais, os manifestantes que se concentram no local designado e que iniciam a marcha de protesto. O percurso é simples e não passa por qualquer grande avenida ou praça de Atenas. Circunscreve-se ao bairro de Petralona, percorrendo as suas ruas e ruelas, mas sem nunca se afastar da estação. Entre os manifestantes predomina o preto das roupas, das bandeiras e das tintas com que se vão cobrindo as paredes do bairro com frases de luta. Não há muitas caras tapadas, apenas as dos que pintam e só quando existem câmaras através das quais é possível a sua identificação. Tirando nas bandeiras e os que são inscritos nas paredes, não se vêem símbolos anarquistas ou de qualquer outra espécie. O folclore iconográfico esquerdista não tem lugar entre este grupo que se desloca gritando palavras de ordem e acenando aos moradores que vêm à janela saudar os manifestantes. Petralona é um bairro de tradição de esquerda e um dos mais activos politicamente e talvez seja essa a razão que explica a afectividade com que os manifestantes anarquistas são recebidos. Às tantas, numa das ruas em que a manifestação seguia, pétalas de rosas são largadas por alguns moradores das suas varandas sobre os manifestantes que, por sua vez, respondem com palmas e sorrisos. Ao longo do trajecto pelo bairro houve apenas um momento de tensão. De um café, em cuja montra se escrevia qualquer coisa, saiu um homem, o proprietário talvez, com uma faca em riste, reclamando com os manifestantes. Imediatamente, alguns deles rodearam o homem, a ele se dirigindo com grande agressividade e veemência. Foi necessária a intervenção de outros manifestantes e de algumas pessoas que se encontravam no interior do café para que as coisas se acalmassem e o cortejo pudesse seguir o seu caminho em direcção à estação. Aqui chegados, as coisas mudaram rapidamente. Em poucos metros, passam a ser vários os koukoulofori, expressão que na Grécia se usa para designar o que no resto da Europa se vai chamando black block. A palavra grega tem uma romântica tradução literal para qualquer coisa como “encapuçados que se mexem”. Mas continuando. Passam a ser vários, quase todos, os manifestantes que se cobrem com capuzes, máscaras, gorros, cachecóis, etc.. As bandeiras passam para a frente e lajes do passeio são arrancadas e partidas, fornecendo armas de luta e arremesso aos manifestantes. Por esta altura, já as lojas fecharam e os donos e clientes se afastaram. Uma barricada é erguida numa das extremidades da rua que dá acesso à estação, sendo colocada entre os manifestantes e o corpo de intervenção da polícia que desde o início seguia de longe a manifestação mas que nesta altura se tentava aproximar. Feita a barricada e preparados que estão os manifestantes para enfrentar a polícia, passa-se à concretização da acção que os tinha reunido neste dia: o ataque à estação, propriedade da companhia que gere as linhas de comboio/metro de Atenas e onde tem actividade a empresa da trabalhadora atacada. A tensão é grande e às movimentações da polícia, respondem os manifestantes desafiando-a com palavras de revolta e um rufar sacado das bandeiras no chão, em contentores do lixo ou num gradeamento que ladeia a rua. Os manifestantes não recuam e a polícia não avança. Enquanto polícia e manifestantes se avaliam e controlam, um grupo destes entra na estação, munido de escadotes e outras ferramentas, para aí deixar a sua marca de protesto e revolta. A polícia, que consegue ver o grupo de manifestantes a entrar na estação, nada faz, limitando-se a aguentar a sua posição diante dos manifestantes e da barricada por estes levantada. Um confronto poderá ter consequências maiores e mais graves do que as que eventualmente resultarão do ataque à estação e a polícia parece fazer permanentemente essa avaliação. Em poucos minutos o grupo da estação está de regresso, manifestando aos que aguentaram o corpo policial o sentido do dever cumprido. A acção está concluída e agora resta seguir até ao local onde a manifestação deverá terminar, assegurando que ninguém fica para trás e é apanhado pela polícia que ainda se mantém à distância. Impressiona a capacidade de organização e o espírito de união dos manifestantes, condições que ajudam a explicar a dimensão e força da revolta que desde os primeiros dias de dezembro tem assolado a Grécia. Nesta parte final do percurso, as caras voltam a descobrir-se e as ferramentas usadas desaparecem sem disso se dar conta. A manifestação chega depois ao fim e os manifestantes rapidamente abandonam o espaço e se misturam entre os turistas e outras pessoas que circulam pelas movimentadas ruas de Atenas. Correu tudo conforme planeado. Não houve detenções e a estação ficou marcada por uma luta que veio para durar. Assim parece, pelo menos."

Party Program

http://www.spectrum.weblog.com.pt/


Cronologia e retrospectiva:


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

8 de Janeiro de 2009

Notícias:

Fascists co-operating with the cops
“Our answer will be given on the streets”: final build-up for January 9 demonstrations


Testemunhos:

Diário de Atenas II

Dia 2

Apagaram tudo?
Chegados ao Politécnico de Atenas, o centro da contestação estudantil e o sítio onde vigora a lei do asilo (a policia está impedida pela Constituição de lá entrar sob qualquer circunstância), encontramos as paredes a serem pintadas. Dois trabalhadores tapavam com tinta branca um graffiti: “Fuck the police”. A repressão policial é uma das questões principais da mobilização. Desde a ditadura militar que há uma forte cultura anti-autoritária neste país. Os partidos do poder – PASOK e Nova Democracia – têm feito promessas sucessivas de “democratização da polícia”. Mas ela nunca aconteceu verdadeiramente: a polícia continua conotada com a extrema-direita e com uma repressão violenta. A Amnistia Internacional considerou a Grécia um dos piores países europeus no que diz respeito à violência policial. E antes dos Jogos Olímpicos de 2004, uma série de leis “anti-terroristas” reforçaram o poder e a arbitrariedade da acção policial. Os jovens e os imigrantes são, naturalmente, os primeiros alvos desta repressão. Não apenas nas manifestações, mas no dia-a-dia: identificação de pessoas, violência nas esquadras, etc.... Em Exarchia, bairro central da contestação e onde se situa o Politécnico, a policia é uma presença constante.
“Só Deus escolhe quem morre”
Ninguém esquece a morte do jovem Alexis Grigoropoulos. Um outro Alexis, desta feita Kougias e advogado do policia que assassinou o adolescente, disse na televisão, a seguir ao assassinato, que “só Deus escolhe quem morre e quem vive” e que “o Tribunal é que vai decidir se ele merecia morrer ou não”. Em quatro dias, um grupo criado no Facebook, cujo título era “Fuck Alexis Kougias” reuniu 90 mil membros. A net é um ponto de encontro – e um lugar de mobilização na revolta de Atenas.

José Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-ii.html



Artigos:

O que diz Soeiro

Li com choque e pavor as entradas no diário ateniense do jovem deputado do bloco. Assim à primeira vista não têm nada de muito surpreendente e não me causam incómodo de maior. O que me chama mais a atenção na sua leitura é o constante esforço de «tradução» do que acontece em Atenas para a cultura política de José Soeiro e dos jovens do bloco, fazendo-me recordar a reportagem publicada no verão sobre o seu acampamento. Tudo é lido à luz desta mistura difusa de escutismo, comércio justo, boa vontade e entusiasmo kitsch, em que se aspira a «um mundo melhor» e se tem a preocupação de ser «pedagógico». Ficamos com a sensação de que Soeiro, quando deixa cair um copo de sumo de maçã em casa de alguém, diz «chiça» em vez de «fôda-se», para não ferir qualquer susceptibilidade.Note-se a preocupação do primeiro dia: "Por isso, também os estudantes terão de arranjar formas criativas - e preferencialmente à escala europeia - para manter o conhecimento na esfera não mercantil dos direitos." Temos dificuldades em compreender o que poderá ser a esfera mercantil dos direitos, mas numa frase em que se fala de «formas criativas e preferencialmente à escala europeia», seria quase mesquinho ir por aí. Sabemos que este tipo de formulações aponta quase sempre para a repetição em Portugal do que alguém viu fazer num qualquer Fórum Social Europeu ou manifestação londrina/parisiense/romana contra a privatização do ensino. Sabemos, no fundo, que é tanto menos criativa quanto aspira à escala europeia, mas como querer mal a um entusiasmo tão juvenil? Ele parece mesmo acreditar nestas coisas e isso já é uma vantagem em relação aos jovens que o precederam.

O que se torna problemático é a posição do «portuguese comrade» que tenta «explicar» aos gregos o que mais lhes convém, apesar de ter caído ali de pára-quedas e de não falar nem compreender a língua em que se debate nas assembleias. A imagem de uma assembleia estudantil transformada em mini-parlamento - em que "as intervenções são feitas pela ordem de representatividade das correntes politicas estudantis" - não parece coincidir muito com as discrições que se lêm noutros sítios. Mas registe-se a candura, Soeiro explica que estão a ser apresentados pelos media como «animais» (sic) e é aplaudido por todos, menos por um grupo de anarquistas (cinco, para ser mais concreto) que o «vetam» sem qualquer razão aparente, apesar das afirmações seguintes parecerem dar-lhes bastantes razões para o seu veto: "É pena, porque aquelas imagens mereciam ser vistas. Dizem muito mais sobre o que se passa do que qualquer montra partida." Neste ponto acompanho plenamente os cinco anarquistas da assembleia de arquitectura. As montras partidas dizem muito mais sobre o que se passa do que qualquer texto que José Soeiro publique no Esquerda.net E se os participantes na assembleia soubessem que Soeiro é deputado de um partido que recorre a esquemas como este, talvez a simpatia polida para com os «portuguese comrades» tivesse sido um pouco mais azeda. Este paternalismo de quem acha que sabe perfeitamente o que merece ou não ser visto, o que reflecte ou não o espírito do movimento, juntamente com este imaginário político que não vive sem arrumar tudo em gavetinhas bem etiquetadas (os representantes de cada facção estudantil como epicentro da assembleia) e que nem sequer renunciou à ritual denúncia do partido comunista, que não acompanha o movimento e que portanto é etiquetado de «partido da ordem», como se a «esquerda radical» com que simpatiza José Soeiro não tivesse feito o mesmo, como pudemos ler no esquerda.net: "Saudamos os estudantes, rapazes e raparigas, todos os jovens que não escondem a cara. [...] O nosso alvo é o sistema, e as suas injustiças para com a juventude. O nosso alvo não são as montras, os carros, as residências, os edifícios públicos. Estamos inequivocamente contra a violência cega."O nosso alvo é o sistema. Quanta ternura...

Rick Dangerous

7 de Janeiro de 2009


Notícias:

La Grèce procède à un large remaniement ministériel


A REVOLTA NA GRÉCIA debate organizado pela unipopDos primeiros-ministros europeus ao mais anónimos militantes e activistas, os acontecimentos ocorridos na Grécia em início de Dezembro de 2008, e cuja irresolução parece prolongar-se nestes primeiros dias de 2009, mereceram atenção generalizada e têm sido pretexto para vários debates. Estes debates, entre outros pontos, tocam as seguintes questões: a motivação dos revoltados e a diversidade de grupos envolvidos nos protestos; a hipótese de um novo ciclo de lutas, caracterizadas por novas práticas, novos protagonistas e novas ideias, estendendo-se de Los Angeles a Atenas, passando por Seattle, Génova e Paris; a relação entre a polícia, a violência, a política e os movimentos; o renascimento de uma cultura política insurreccional; a posição das diferentes esquerdas políticas ante os acontecimentos; etc.
Para discutir estas e outras questões relativas à revolta na Grécia, convidamos todos os interessados a aparecerem na Livraria Pó dos Livros, no dia 13 de Janeiro, terça-feira, às 18h30. O debate é organizado pela unipop, que, para o efeito, convidou – e eles aceitaram – o Daniel Oliveira, o Nuno Ramos de Almeida, o Ricardo Noronha e o Rui Tavares.
A Livraria Pó dos Livros fica na Av. Marquês de Tomar, n.º 89.Para uma melhor localização da livraria:http://arquivopodoslivros.blogspot.com/2008/03/estamos-aqui.html
Via : http://u-ni-pop.blogspot.com/



Testemunhos:

Diário de Atenas 1

Regresso às aulas ou “ninguém nas aulas, todos na rua”?
Amanhã é o dia do regresso às aulas. As faculdades que estiveram ocupadas estão a ser pintadas e reconstruídas pelo Governo, que tenta apagar as marcas da revolta. Para amanhã, estão marcadas várias assembleias, que decidirão como vai continuar o protesto. Para já, está também agendada uma manifestação em toda a Grécia para sexta-feira. No fim do ano, quando começaram as férias de Natal, os estudantes despediram-se do poder com o seguinte slogan: Merry Crisis and a Happy New Fear. Amanhã veremos se tinham razão. E qual o impacto do que aconteceu anteontem.
O policia assassinado e as expectativas para dia 9
Anteontem, um policia de 21 anos foi alvejado por uma metralhadora MP5 e uma Kalashnikov. Diz-se que a acção foi perpetrada por um grupo chamado Luta Revolucionária, mas na verdade não foi reivindicada por ninguém. Do que nos disseram, trata-se de uma acção isolada e feita por um grupo sem nenhuma ligação ao movimento. A esquerda radical, nomeadamente a SYRIZA, que tem estado com a revolta dos jovens, já condenou o ataque. Ontem, alguns milhares de pessoas concentraram-se em frente ao hospital onde está o polícia. A Igreja recebeu palmas na visita que lhe fez. O Governo deve estar contente: agora é muito mais fácil justificar uma onda repressiva sobre os que protestam contra a precariedade e contra a violência policial que assassinou o jovem Grigoropoulos.
As expectativas em relação à manifestação são assim condicionadas por este episódio. Pode acontecer que a policia tenha uma acção mais violenta e repressiva. Pode acontecer que uma parte dos manifestantes, que tem sido alvo de buscas e intimidação nos últimos dias, tenha uma reacção mais violenta na manif. Pode acontecer que haja mais gente, também contra a manipulação. Pode acontecer que haja menos gente, pelo isolamento da revolta ou por temerem que a tensão degenere em violência.
Quem não tem cão, caça com gato
No ano passado, um enorme protesto que atravessou as universidades gregas conseguiu derrotar o governo e fazer recuar a proposta de revisão constitucional que previa a possibilidade de ensino privado na Grécia. Neste país, o ensino superior é público e gratuito. Face à força da mobilização estudantil, essa reforma que abria as portas da educação aos privados não passou. Mas a luta mantém-se. A estratégia do negócio percebeu que se não podia caçar com cão, podia caçar com gato: o que agora acontece é que há uma espécie de “franchising” de Universidades privadas de outros países europeus que abrem filiais na Grécia e que, depois, certificam os estudantes com os diplomas desses países. Ainda que o ensino privado não exista na Grécia, quem frequenta estas escolas pode depois ter um diploma de outro país e trabalhar com essa qualificação na Grécia, uma vez que assim prevêem as leis europeias. Dessa forma, contorna a lei grega que protege a educação da invasão do mercado. Por isso, também os estudantes terão de arranjar formas criativas – e preferencialmente à escala europeia – para manter o conhecimento na esfera não mercantil dos direitos.
Eles lá é mais bombas...O Governo grego gastou todo o stock de gás lacrimogéneo que tinha, na repressão das manifestações do mês de Dezembro. Segundo se conta por cá, pediu ao Governo israelita que lhe dispensasse algum, para ser utilizado no próximo dia 9, mas que já foi testado nas manifestações que existiram aqui em Atenas contra a invasão israelita e o genocídio em Gaza.

José Soeiro

via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas.html

6 de Janeiro de 2009


5 de Janeiro de 2009


4 de Janeiro de 2009


3 de Janeiro de 2009


2 de Janeiro de 2009




1 de Janeiro de 2009


31 de Dezembro de 2008

Cartoon de Henrique Monteiro


30 de Dezembro de 2008

29 de Dezembro de 2008

Documentos:

A Bedouin anytime! A citizen never.

The following text was one of the final to come out of an initiative from the occupied Athens University of Economics and Business. The occupation is no more, yet two new public buildings have been occupied in Athens in the last few days only: Another university property is now temporarily liberated (more about this tomorrow) while the headquarters of ISAP (the Athens-Piraeus Electric Railway) are also occupied as a response to the murderous attack against Konstantina Kuneva. Konstantina, a migrant cleaner at one of ISAP’s subcontracting companies and a militant union organiser, was attacked on 23/12/2008: sulphuric acid was thrown at her face as she was returning home from work. She is now in intensive care ward of Evangelismos hospital suffering serious sight and respiratory system problems. I want to write much more about her case and the solidarity wave it has sparked – so, more to follow…

(Translator’s note: the text goes out to the good people of Gaza. We have them in our hearts and minds and they remind us, in the most horrific of ways, that we have a million reasons to revolt and not a single one to sit back, to be complacent, to return to their murderous normality.)

A Bedouin anytime! A citizen never.

Having by our late labours and hazards made it appear to the world at how high a rate we value our just freedom (…) we do now hold our selves bound in mutual duty to each other, to take the best care we can for the future, to avoid the danger of returning into a slavish condition

- Levellers, An Agreement of the People, 1647

Let’s look beyond the tear gas, the baton sticks and the riot police vans: The operation being conducted by the bosses since December 6th doesn’t comprise a mere combination of repression and propaganda; rather, it is the application of a series of methods aiming to re-negotiate social peace and consensus.

From the communist party, which views the revolted people as puppets of syriza (the euro-left parliamentary party – transl.) and of cia, all the way to socialist party politicians moaning that Athens resembles a city of the Eastern Block, what with its streets empty from consumers. From the archbishop of Thessaloniki, who begs his flock to go shopping and the city’s international exposition offering free parking to christmas shoppers, they all hold a common target: The return to the normality of democracy and consumption. Thus the day after the revolt, which happens to coincide with a dead consumer feast such as christmas, is accompanied by the demand that this must celebrated at all cost: not only in order for some tills to fill up but in order for us all to return to our graves. The day after holds the demand of the living dead that nothing disturbs their eternal sleep no more. It holds a moratorium legitimising the emptiness of their spectacle-driven world, a world of quiet and peaceful life. And the generals of this war hold no weapon that is more lethal than the appeal to that absolute, timeless idea: democracy.

The word-for-democracy, developing as it does ever more densely from the side of the demagogues of calmness, aims at the social imaginary – the collective field of structuring of desires and fears. It aims, in other words, at the field where procedures invisibly take place that can secure or threaten order and its truth. Everyone knew, well before the assassination of Alexis, that the oligarchy of capital had given up on trying even to seem democratic, even by bourgeois terms: economic scandals, blatant incidents of police violence, monstrous laws. Yet this fact is not, neither here nor anywhere else, what might worry the bosses. This is precisely because the constant reproduction of the establishment under such terms (“is it democratic enough? Is it really democratic?”) reproduces the capitalist oligarchy that builds around it a wall of scandals, remorses, resignations, demands and reforms – preventing, in this way, the questioning of (not the democratic qualities of the regime but) democracy as a system of social organising. Hence bosses can still appeal to this higher value today, this axiomatic mechanism of the political, in order to bring us back to normality, consensus, compromise. In order to assimilate the general spontaneous rage in the sphere of mediation before this rage can organise itself into a revolutionary potential which would swoop all and any intermediaries and peaceful democrats – bringing along a new form of organising: the commune.

Amidst this ludicrous climate of shallow analyses the salaried officials of the psychological warfare point at the revolted, howling: “That’s not democratic, that ignores the rules under which our democracy functions”. We cannot help but momentarily stand speechless in the face of what we would until recently have considered impossible. Even if having the intention to deceive, the bosses of this country have said something true: We despise democracy more than anything else in this decadent world. For what is democracy other than a system of discriminations and coercions in the service of property and privacy? And what are its rules, other than rules of negotiation of the right to own – the invisible rules of alienation? Freedom, rights equality, egalitarianism: all these dead ideological masks together cannot cover their mission: the generalisation and preservation of the social as an economic sphere, as a sphere where not only what you have produced but also what you are and what you can do are already alienated. The bourgeois, with a voice trembling from piety, promise: rights, justice, equality. And the revolted hear: repression, exploitation, looting. Democracy is the political system where everyone is equal in front of the guillotine of the spectacle-product. The only problem that concerned democrats, from Cromwell to Montesquieu, is what form of property is sufficient in order for someone to be recognised as a citizen, what kind of rights and obligations guarantee that they will never understand themselves as something beyond a private citizen. Everything else is no more than adjusting details of a regime in the service of capital.

Our despise for democracy does not derive from some sort of idealism but rather, from our very material animosity for a social entity where value and organising are centered around the product and the spectacle. The revolt was by definition also a revolt against property and alienation. Anyone that didn’t hide behind the curtains of their privacy, anyone who was out on the streets, knows it only too well: Shops were looted not for computers, clothes or furniture to be resold but for the joy of destructing what alienates us: the spectacle of the product. Anyone who doesn’t understand why someone delights in the sight of a destructed product is a merchant or a cop. The fires that warmed the bodies of the revolted in these long December nights were full of the liberated products of our toil, from the disarmed symbols of what used to be an almighty fantasy. We simply took what belonged to us and we threw it to the fire together with all its co-expressions. The grand potlatch of the past few days was also a revolt of desire against the imposed rule of scarcity. A revolt of the gift against the sovereignty of money. A revolt of the anarchy of use value against the democracy of exchange value. A revolt of spontaneous collective freedom against rationalised individual coercion.

(http://www.occupiedlondon.org)


Notícias:

Greek Riots-Illuminati Connection-Destroy Athens Biennial



28 de Dezembro de 2008

Artigos:

Grecia: mensaje en una botella - Àngel Ferrero

Grecia: ¿preámbulo de una revolución? - Uri Gordon

27 de Dezembro de 2008

Documentos:

World Revolution Manifesto

(Translator’s note: The greek version of the manifesto below has been circulating across websites in the country and arrived in the blog’s inbox as well. While I might not personally agree with all points raised in the text, what I particularly liked about it is that the ideas and what it calls for could have easily been dismissed as unrealistic exactly three weeks ago, but suddenly everything and anything seems possible… I never thought I’d be here translating a call for a world revolution before the end of 2008 but then again I never thought I would see the entire of Ermou Str - Athens’ main commercial/ shopping street - up in flames. It’s about time for ideas, plans and more action to kick in!)

ermou1

Planet Earth

December 27, 2008

A. The state of corporatism that we live in

The planet is under a state of siege from corporations. The people who own them (i.e. this neurotic, criminal minority) use tools such as the States in order to increase their monetary income to the maximum, to meet their desire for total authority and to maintain the postmodern industrial production apparatus called Planet Earth.

There is no doubt that it is the banks controlling the States (and not the other way round) since, as we passively observe at this moment, the masks in the birthplace state of capitalism have fallen: the US government supports the panicked moves of this Corporatist regime and prepares its army for a “possible social unrest in the face of an upcoming crisis”.

In turn, states hold the people in a divided and idle state so that they will compete with one another instead of rising up against the obvious enemy of humanity. Those in authority bring up individuals teaching them their differences to the person next to them; implanting them “values” such as the nation, gender, success, consumption, health, beauty and sanity of mind. These produce behaviours observed globally and are, more or less, known to us all: nationalism, racism, consumerism, sexism, ableism, ageism and lookism.

States would have been unable to mark our bodies with such rotten scars if it wasn’t for the Cops, the Medical Regime, the Educational Regime, the Establishment Media, Religions and Bureaucracy in all its forms.

Humans end up beings with a hyper-emphasised “ego” since they are a unique amalgan of heterogeneous identities. Proletarian and muslim. Respectable housewife and lesbian. Student and depressed. Sexist and communist. Successful yuppie and sensitive in ecological issues. Woman and nationalist. Shattered in thousands of small pieces, which prevent them from seeing who it is that enforces their repressed class status. Most importantly, they prevent them from understanding themselves as something more collective, such as the globalised neo-proletariat: all the humans of the planet, that is, who experience daily everything from the darkness and depression to the abjection and non-voluntary death. A proletariat of this type that, numerically only, prevails.

The plenitude of constructed identities creates a condition of “cultural war” in each of the planet’s societies (as well as trans-nationally) where identities compete with one another, often in favour of the Regime, as this will lead its respectable citizens to demand even tighter security.

The dictatorship of the Corporatist Bourgeois Democracy makes sure to repress all and any spontaneous resistance to the power: it sucks social nuclei of resistance into political parties, trade unions and other political formations that reek of death. It does not hesitate, only too often, to “democratise” locales of the planet, to repress liberating movements and to deny the right to self-determination (the US in Iraq; Israel in Palestine; Greece in Macedonia).

It does not hesitate to destroy the nature of Earth, exterminating whole eco-systems, altering the environment and disrupting our bodies with the quality of food we receive. All in the name of progress, science and civilisation.

The civilised world is an amalgam of all these authoritarian patterns which, over time, have convinced us of having a quality of life without which (ironically) humans lived much better in the past.

The rise of population and of the average life expectancy, with the blessings of the Medical Regime, simply increases the number of the waged slaves, shrinking, at the same time, the quality of their life to the absolute minimum.

Life in the city has distanced humans from the experience of living, observing and learning from natural phenomena; it has destroyed the experience of the physical space and has made them vulnerable in the face of experience that used to be commonplace (physical labour, outdoors survival etc).

B. The World Revolution must be against civilisation

- The catalyst of our organising is the world wide web: We call all the disgruntled and revolted to get their own voice on the web, either by sending contributions to counter-information media or setting up their own blogs, creating collective discussion boards or hacking established and capitalist websites.

- We call all workers around the world to discuss about self-organising in their workspaces and to make proposals in regard to exiting trade unions. We call them to occupy the places of production and to manage their units horizontally, in a self-organised manner, under the guidance of consensus.

- We call all high school and university students to occupy their buildings, shoving aside all political party henchmen; to co-form with tons of imagination and humour, ideas on theory and practice! To turn these buildings into nuclei of anarchist life and social outreach.

- We call all who have lived under the burden of Clinical Depression to come together, to reject the chemicals of the pharmaceutical corporations and to co-shape ideas for the destruction of the civilisation that slashed our brains.

- We call all migrants to join together their rage for the way in which the Establishment turned them into people without a place and to destroy the civilisation that alienated them.

- We call all scientists to resign from the Science Regime and to investigate autonomously and collectively how autonomous and inexhaustible energies can be provided – such as solar, wind and geothermal.

- We call all the people who have forgotten that the revolution can happen, to expropriate immediately all that belongs to them and to sabotage, to the maximum extent possible, the production line. We can hold – and it’s worth it!

- We call all bourgeois artists to stop wasting their imagination in bourgeois creations and to join in our struggle, pouring their imagination into the shaping of the World Revolution!

- We call all farmers and agricultural producers to collectivise their production and to stop over-producing for capital. To teach their co-humans techniques on how to live autonomously by farming.

- Meat production must seize immediately and all animals should be freed! Meat is murder!

We call all anarchists, communists and libertarians to not cease their actions of revolt and to continue with the counter-information, which is so important.

Sabotaging or self-organising the process of production, creating autonomous food production, expropriating existing supplies, creating autonomous zones in cities and planning for autonomous forms of energy, we can render money obsolete. We can create pockets of anarchist culture which, thanks to their existence, counter-information and the world wide web, will spread like the hot wind of freedom.

Any attempts by the states to stop us will be met with the revolted; the revolted of poverty, depression and exclusion. We’ll take time in our hands!

Let Athens’ December revolt become an organisational inspiration for revolutionaries across the world.

Humans of the world, unite!

For anarchy and libertarian communism!

For freedom!

For the absolute!

Long live World Revolution!


(http://www.occupiedlondon.org)



Artigos:


Queremos tudo

Sejamos realistas, o que se passa na Grécia tal como o que se passou no novembro Françês, ou até mesmo nas manifs anti-CPE, é díficil de ser incorporado por qualquer quadrante político. Por cá, aquilo a que o outro lado da barricada chama a extrema-esquerda, mais não faz que manter uma posição prudente típica de quem acha que o sentido de estado é o mínimo denominador comum de qualquer debate a que se possa dar o nome de democrático. A violência nem é o pior dos seus pesadelos, um motim nos banlieus não é nenhuma novidade desde há 20 anos, e Paris agora no final da noite de passagem de ano acordará com centenas de carros incendiados tal como tem sido ao longo das últimas duas décadas. Esta fuga, esta disparidade, entre o que a realidade grega demonstra e o que os partidos "à esquerda do possível" defendem, só me fazem lembrar outros tempos, em que a rejeição total da liderança do movimento pelos partidos e sindicatos foi determinante na elaboração de toda uma nova perspectiva organizativa, um novo construir o partido.

O Bloco, na tentativa de acompanhar de alguma maneira os acontecimentos, tem feito umas notícias no esquerda.net. Acontece que uma delas não passou o crivo do critério editorial. No passado dia 20, foi convocada uma pequena manifestação de apoio aos guerreiros helénicos em Lisboa e algum ingénuo terá tido o desplante de tentar publicar isto

"na conjuntura histórica em que nos encontramos, de crise, raiva e bloqueio das instituições, a única coisa que pode converter o abalo do sistema em revolução social é a rejeição total do trabalho"

"Às caricaturas supostamente pacifistas dos meios de comunicação da burguesia (a violência é sempre inaceitável, onde quer que seja) apenas podemos contrapor gargalhadas: a sua dominação, a dominação dos espíritos tranquilos e do consenso, do diálogo e da harmonia, não é mais do que um bem calculado prazer da bestialidade"

Na verdade, procurando no site esquerda.net pela manifestação do dia 20, apanhamos com esta bonita frase:

"Não possui permissões para aceder a esta área do site.

É necessário efectuar a sua autenticação para entrar. Se já tinha efectuado a autenticação, a duração da sua sessão terá terminado. Volte à Página Principal e efectue de novo a autenticação. Obrigado"

A marcha pelo emprego segue dentro de momentos.

Chuckie Egg

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Como se organiza uma insurreição

The personal and collective need for adventure; the need to participate in making history; the chaotic negation of any kind of politics, political parties, and “serious” political ideas; the cultural gap of hating any kind of TV star, sociologist, or expert who claims to analyze you as a social phenomenon, the need to exist and be heard as you are; the enthusiasm of fighting against the authorities and ridiculing the riot police, the power in your heart and the fire in your hands, the amazing experience of throwing molotovs and stones against the cops in front of the parliament, in the expensive shopping districts, or in your small silent town, in your village, in the square of your neighborhood.
Other motivations include the collective feeling of planning an action with your best friends, making it come true, and later hearing people tell you about this action as an incredible story that they heard from someone else; the enthusiasm of reading about some action that you did with your friends in a newspaper or TV program from the other side of the planet; the feeling of responsibility that you have to create stories, actions, and plans that will become global examples for the future struggles. It is also the great celebrative fun of smashing the shops, taking the products and then burning them, seeing the false promises and dreams of capitalism burned in the streets; the hatred for all authorities, the need to take part in the collective ceremony of revenge for the death of a person that could have been you, the personal vendetta of feeling that the police have to pay for the death of Alexis across the whole country; the need to send a powerful message to the government that if police violence increases, we have the power to fight back and society will explode—the need to send a direct message to society that everyone has to wake up, and a message to the authorities that they have to take us seriously because we are everywhere and we are coming to change everything.
So the 20,000 anarchists in Greece started it, and continued it when everybody else returned to normality. And we have to mention that the fear of returning to normality helped us to keep up the fight for ten days more, putting ourselves into great danger as acts of vengeance for the assassination of our comrade transformed, in our fantasies, into preparations for a general strike. Now European society knows once and for all what a social insurrection looks like, and that it is not difficult to change the world in some months.
But you need all the people to participate and play their roles. The young people of Greece sent an invitation to all the societies throughout Europe. We are awaiting their responses now.

Rick Dangerous

26 de Dezembro de 2008

Artigos:

Barricade and history / Notes on the intensification of bourgeois antagonism

fuck 1968



Rioters have more fun

Estou com o camarada Gabriel Silva, do Blasfémias. Ninguém está a «constestar» o que quer que seja. É só mesmo a alegria de rebentar com os BMW's dos donos do mundo. É só mesmo vandalismo e parece ter cada vez mais adeptos. Ir às compras, ver televisão ou jogar computador não têm metade da piada. Os mercados estão em quebra e a subversão recupera o seu glamour. É isso que as mentes ordeiras não conseguem suportar.

Rick Dangerous
(http://www.spectrum.weblog.com.pt/)




Um mundo inflamável e a fagulha grega

Mike Davis é um dos historiadores marxistas mais interessantes. É autor da uma obra prima sobre a história do poder na grande cidade Los Angeles, o “City of Quartz”. A escrita de Davis, em livro (em texto curto é bastante mais directo), é encantatória, o relato de Los Angeles começa no deserto numa comunidade utópica no deserto e acaba nos motins que abalaram a grande urbe da Califórnia. No seu último livro, “Buda’s Wagon”, aborda a “guerra ao terrorismo” a partir da invenção do carro bomba. Faz da história da criação do anarquista Mario Buda, que fez explodir uma carroça com explosivos na rua da Wall Street, matando 40 pessoas, uma reflexão sobre a guerra e os conflitos de hoje .

Recentemente, Tomás Vasques escreveu que “há por aí uma malta que tem orgasmos múltiplos mal vê uma imagem de uma centena de estudantes concentrados numa rua de Atenas. Se essa malta voltar a ler Platão percebe que a vaselina tem areia.”, o sempre expedito Pedro Correia acrescentou, “o problema, caro Tomás, é que essa malta nunca leu Platão. E o único Sócrates de que ouviram falar foi deste cá da terrinha, não do outro”.

Sapiente do conselho de tais sábios, Tomás Vasques, em matéria de areia, e Pedro Correia sobre os , até agora perdidos livros do filósofo Sócrates, acho interessante publicar mais um texto dessa malta que, como o outro dizia, conjuga o pessimismo da razão com o optimismo do coração. Segue o texto que Mike Davis escreve, no site Sin Permisso, sobre a situação na Grécia.

1. Pienso que nuestras sociedades están supersaturadas con rabia no reconocida, una que repentinamente puede cristalizar en torno a algún incidente aislado de abuso policiaco o de represión estatal. Aunque las semillas de la revuelta se han sembrado flagrantemente, la sociedad burguesa casi no reconoce que es su propia cosecha.

En Los Ángeles en 1992, por ejemplo, cada adolescente en las calles (o para el caso todo policía de turno, a pie) supo que venía el Armagedón. Las ensanchadas líneas de quiebre entre la juventud de las barriadas y el gobierno de la ciudad debieron haber sido visibles hasta para el más ingenuo de los observadores: arrestos masivos semanales, innumerables tiroteos de policías contra chavales desarmados, una indiscriminada caracterización de los jóvenes de color como gángsters, unos injuriantes dobles criterios de justicia, y así por el estilo. No obstante, cuando ocurrió la erupción, en la ola del veredicto de la corte que exoneraba al policía que casi había matado a Rodney King a golpes, las elites políticas y de los medios reaccionaron como si alguna fuerza secreta, impredecible, se hubiera desatado desde las profundidades de la Tierra.

Subsecuentemente, los medios (que sobrevolaban en helicópteros casi todos) intentaron manejar la percepción mundial del motín mediante la simplificación y el estereotipamiento drásticos: las pandillas de negros estaban en las calles incendiando y saqueando. De hecho, el veredicto en torno al caso Rodney King se volvió el núcleo respecto del cual diversos agravios se aglutinaron. De los miles arrestados pocos eran en realidad los miembros de pandillas y únicamente un tercio era siquiera afroestadunidense. La mayoría eran inmigrantes pobres o sus hijos, que fueron arrestados por robar pañales, zapatos y televisores de las tiendas locales. La economía de Los Ángeles estaba (aún está) en un profunda recesión y los barrios latinos pobres al oeste y al sur del centro de la ciudad fueron los más afectados, pero la prensa nunca había informado de su miseria existencial, así que casi se ignoró por completo la dimensión de “motín por pan” del levantamiento.

De modo semejante, en la Grecia actual, una atrocidad policiaca “normal” finalmente dispara un brote que se estereotipa como furia inexplicable y se culpa a los anarquistas de las sombras, cuando que, de hecho, “guerra civil de baja intensidad” es el término que mejor caracterizaría lo que desde hace mucho es la relación entre la policía y varios estratos de jóvenes.

2. No estoy calificado, en lo absoluto, para comentar la especificidad de las condiciones griegas, pero tengo la impresión de que hay importantes contrastes con la Francia de 2005. La segregación espacial de los jóvenes inmigrantes y pobres parece menos extrema que en París, pero las perspectivas de empleo para los muchachos pequeñoburgueses son considerablemente peores: la intersección de estas dos condiciones trae a las calles de Atenas a una coalición más diversa de estudiantes y jóvenes adultos desempleados. Más aún, heredan una continuada tradición de protesta y una cultura de la resistencia que es única en Europa.

3. ¿Qué demanda la juventud griega? Seguramente percibe con claridad implacable que la depresión mundial cancela las reformas tradicionales del sistema educativo y el mercado laboral. ¿Por qué habrían de tener fe alguna en la repetición seriada del Pasok (el Panellinio Sosialistiko Kinima o Movimiento Socialista Panelénico) y sus promesas rotas?

Pero sí, están ustedes en los cierto: ésta es una especie original de revuelta, prefigurada por los motines anteriores en Los Ángeles, Londres y París, pero que surge de un nuevo y más profundo entendimiento de que el futuro ya lo saquearon por adelantado. De hecho, ¿qué generación en la historia moderna (aparte de los hijos de la Europa de 1914) ha sido tan totalmente traicionada por los patriarcas?

Me angustia esta pregunta porque tengo cuatro hijos y aun el más joven entiende que su futuro puede ser radicalmente diferente que mi pasado. La cohorte de mi generación [los llamados bayboomers] le hereda a sus hijos una economía mundial rota, extremos de inequidad social que aturden, brutales guerras en las fronteras imperiales y un clima planetario fuera de control.

4. A Atenas se le mira ampliamente como la respuesta a la pregunta: “¿Y después de Seattle qué?” Recuerden las manifestaciones contra la OMC y la “batalla de Seattle” en 1999, que abrieron una nueva era de protestas no violentas y activismo de base; la tremenda popularidad de los Foros Sociales Mundiales; las demostraciones de protesta contra la invasión de Irak por Bush en 2003, que tenían la fuerza de millones de personas, y el amplio respaldo hacia los Acuerdos de Kyoto, todo esto auguraba una enorme esperanza de que un “mundo alterno” podía aún nacer.

Desde entonces, la guerra no ha terminado, las emisiones de gases con efecto invernadero aumentaron muchísimo y el movimiento del foro social ha languidecido. Un ciclo completo de protesta llegó a su fin justo en el momento en que estalló la caldera de Wall Street del capitalismo globalizado, y deja en su ola problemas más radicales y nuevas oportunidades para el radicalismo.

La revuelta en Atenas termina con la reciente sequía de rabia. Sus cuadros parecen tener muy poca tolerancia hacia las consignas esperanzadoras o las soluciones optimistas, lo que los distingue de las demandas utopistas de 1968 o el espíritu anhelante de 1999. Esta ausencia de demandas de reforma (y como tal, de cualquier manejo convencional de las protestas), por supuesto, es lo que es más escandaloso, no los cocteles molotov o las vitrinas rotas. No recuerda tanto a la izquierda estudiantil de los años 60 sino a las intransigentes revueltas del anarquismo de los descastados de Montmartre en la década de 1890 o del Barrio Chino de Barcelona a principios de la década de 1930.

Algunos activistas estadunidenses, por supuesto, consideran esto como la renovación de la protesta al estilo Seattle, con la cuota temporal de pasión mediterránea. Encaja con una idea de que “Obama-traerá-cambios”, en un paradigma de entendimiento que es una repetición de los movimientos de reforma política de los años 30 o los 60.

Pero otros jóvenes que conozco rechazan esta interpretación sacada de la manga. Se identifican a sí mismos (igual que los anarquistas de fin d’siecle) como una “generación condenada” y miran en las calles de Atenas la métrica apropiada de su propia rabia.

Hay el peligro, por supuesto, de sobrestimar la importancia de una erupción en un escenario nacional específico, pero el mundo se ha vuelto inflamable y Atenas es el primer chispazo.

Nuno Ramos de Almeida
(http://5dias.net/)