Comunicado Ocupação da Universidade Politécnica, Athens
Ao contrário das declarações de políticos e jornalistas que são cúmplices do assassinato, este não foi um "evento isolado", mas uma explosão da repressão do estado, que sistematicamente e de maneira organizada mira naqueles que resistem, aqueles que se revoltam, os anarquistas e antiautoritaristas.
É o pico do terrorismo de estado, que se expressa com a elevação do papel dos mecanismos repressores, seu contínuo armamento, os crescentes níveis de violência que usam, com a doutrina de "tolerância zero", com a propaganda da mídia caluniadora que criminaliza todos aqueles que lutam contra autoridade.
São estas condições que preparam terreno para a intensificação da repressão, numa tentativa de extrair consenso social de antemão, e o equipamento das armas do estado com uniformes, que estão atacando as pessoas que lutam, a juventude, os desgraçados revoltos em todo o país.
Usar de violência letal contra as pessoas em uma luta social e de classes é contar com a submissão de todos, servindo como punição exemplar, com a intenção de espalhar o medo.
É a escalada do ataque generalizado do estado e dos patrões contra toda a sociedade, para impor condições de exploração e opressão mais rígidas, para consolidar o controle e a repressão. Um ataque que se reflete todos os dias na pobreza, exclusão social, na chantagem para que nos ajustemos a um mundo de divisão social e de classes, na guerra ideológica lançada pelos mecanismos de manipulação dominantes (a mídia de massa). Um ataque raivoso em todos os espaços sociais, demandando dos oprimidos sua divisão e silêncio. Das celas das escolas e universidades aos calabouços da escravidão remunerada com centenas de trabalhadores mortos nos chamados "acidentes de trabalho" e sua pobreza acolhendo uma grande parte da população... Dos campos minados nas fronteiras, pogroms e assassinatos de imigrantes e refugiados, aos numerosos "suicídios" em prisões e estações de polícia... dos "tiros acidentais" em bloqueios policiais, à repressão violenta de resistências locais, a Democracia mostra seus dentes.
Nestas condições de exploração e opressão violentas, e contra as trapaças e pilhagem que o estado e os patrões estão lançando, passando como herança a força de trabalho dos oprimidos, suas vidas, dignidade e liberdade, o sufocamento social acumulado está acompanhando a erupção da ira nas ruas e barricadas pelo assassinato de Alexandros.
Do primeiro momento após o assassinato de Alexandros, demonstrações espontâneas e levantes ocorreram no centro de Atenas, as escolas Politécnica, de Economia e de Lei estão sendo ocupadas e ataques contra o estado e alvos capitalistas têm ocorrido em diferentes bairros e no centro da cidade. Manifestações, ataques e conflitos explodem em Thessaliniji, Patras, Volos, Chania e Heraklion em Creta, em Giannena, Komotini, Xanthi, Serres, Sparti, Alexantroupoli, Mytilini. Em Atenas, na rua Patission -- fora das escolas Politecnica e de Economia -- os conflitos duraram a noite inteira. Fora da Politécnica, a tropa de choque da polícia faz uso de balas de plástico.
No domingo, 7 de Dezembro, milhares de pessoas se manifestaram em direção aos quartéis generais da polícia, em Atenas, atacando a tropa de choque. Conflitos de tensão sem precedentes se espalharam pelas ruas do centro da cidade, durando até tarde da noite. Muitos manifestantes estão machucados e alguns estão presos.
De segunda de manhã até hoje, a revolta se espalhou, e se tornou generalizada. Os últimos dias foram cheios de incontáveis eventos sociais: manifestações de estudantes de ensino médio militantes terminando -- em muitos casos -- em ataques contra estações de polícia e conflitos com policiais nos bairros de Atenas e no resto do país, massivas manifestações e conflitos entre manifestantes e a polícia no centro de Atenas, durante os quais há assalto a bancos, grandes lojas de departamento e ministérios, cerco ao parlamento na praça Syntagma, ocupações de prédios públicos, manifestações terminando em levantes e ataques contra o estado e alvos capitalistas em diferentes cidades.
Os ataques da polícia contra a juventude e geralmente contra pessoas que estão lutando, as dezenas de prisões e espancamento de manifestantes e, em alguns casos, a ameaça aos manifestantes pelos policiais abanando suas armas, bem como sua coperação com matadores -- como no incidente de Patras, quando policiais junto com fascistas atiraram contra os rebeldes da cidade --, são os métodos pelos quais os cães uniformizados do estado estão implementando a doutrina da "tolerância zero", sob os comandos dos patrões políticos, de forma a suprimir a onda de revoltas que foi disparada no sábado a noite.
O terrorismo do exercito de ocupação da polícia é completado com a punição exemplar daqueles que são presos e agora encaram graves acusações que os levarão para o encarceiramento:
Na cidade de Larissa, 8 pessoas foram presas e estão sendo processadas com base na lei "anti"-terrorista, e estão encarceiradas sob acusação de "organização criminal". 25 imgrantes que foram presos durante os protestos em Atenas estão tendo as mesmas acusações. Também em Atenas, 5 dos presos na segunda-feira foram encarceirados, e mais 5 que foram presos na quarta-feira estão sob custória, e serão levados ao promotor na próxima segunda-feita, sob acusações criminais.
Ao mesmo tempo, uma guerra de propaganda enganosa tem sido lançada contra as pessoas que estão lutando, abrindo caminho para repressão, para o retorno à normalidade de injustiças sociais e submissão.
Os eventos explosivos logo após o assassinato causaram uma onda de mobilização internacional em memória a Alexandros e em solidariedade com os revoltosos que estão lutando nas ruas, inspirando um contra ataque ao totalitarismo da democracia. Concentrações, manifestações, ataques simbólicos a embaixadas gregas e consulados e outras ações de solidariedade têm ocorrido em cidades de Chipre, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Hoanda, Grã-Bretanha, França, Itália, Polônia, Turquia, EUA, Irlanta, Suécia, Suíça, Ausrtalia, Slovakia, Croácia, Rússia, Bulgaria, Romênia, Bélgica, Nova Zelândia, Argentina, México, Chile e muitos outros lugares.
Nas barricadas, nas ocupações, nas manifestações e nas assembléias, nós mantemos viva a memória de Alexandros, mas também a memória de Michalis Kaltezas, Carlo Giuliani, Michalis Prekas, Christoforos Marinos e todos os companheiros que foram assassinados pelo estado. Nós não esquecemos a guerra de classes sociais na qual esses companheiros caíram e nós mantemos aberta a frente de uma total recusa ao mundo caquético da Autoridade. Nossas ações, nossas tentativas, são as células vivas do mundo livre e insubordinado que sonhamos, sem mestres e escravos, sem polícia, exércitos, prisões e fronteiras.
As balas dos assassinos de uniforme, as prisões e espancamentos de manifestantes, a guerra de gás químico lançada pelas forças policiais, o ataque ideológico da democracia, conseguem impor medo e silêncio, mas também são a razão para que as pessoas levantem contra o terrorismo de estado seus prantos da luta por liberdade, para abandonar o medo, e se encontrarem -- mais e mais cada dia, os jovens, estudantes de ensino médio ou universidade, imigrantes, desempregados, trabalhadores -- nas ruas da revolta. Deixemos a ira transbordar para inundá-los!
O ESTADO, OS PATRÕES, SEUS MATADORES E SEUS LACAIOS ESTÃO ZOMBANDO DE NÓS, NOS ROUBANDO E NOS MATANDO!
VAMOS NOS ORGANIZAR, CONTRA-ATACAR E ESMAGÁ-LOS!
ESTAS NOITES PERTENCEM A ALEXIS!
IMEDIATA LIBERTAÇÃO DE TODOS OS PRESOS
Estamos mandando nossa solidariedade para todos que estão ocupando universidades, escolas e prédios estatais, manifestando-se e entrando em conflito com os assassinos do estado por todo o país.
Estamos mandando nossa solidariedade a toso os companheiros de fora que estão se mobilizando, transferindo nossa voz para todos os lugares. Na grande batalha por liberação social global, nós estamos juntos!
A Ocupação da Universidade Politécnica de Atenas,
Sexta-Feira, 12 de dezembro de 2008
A assembleia da Ocupação ocorre todo dia às 20h na Politécnica.
“We are in Civil War: With the fascists, the bankers, the state, the media wishing to see an obedient society”
…you would be excused to think that the above extract comes from an anarchist statement; alas, no - it is from the statement issued by the association of employees of the suburb of Agios Dimitrios in Athens. Here’s a rough translation of the statement, as promised. Keep in mind that, as members of the association told some comrades, they tried to keep the style of the text as sober as possible, to ensure the maximum number of people take the streets with them.
STATEMENT
On Saturday night, the Greek police assassinated a 15 year old student.
His assassination was the straw that broke the camel’s back.
It was the continuation of a coordinated action, by state terrorism and the Golden Dawn, which aimed at university and high school students (with the private universities first), at migrants that continue to be persecuted for being born with the wrong colour, at the employees that must work to death without compensation.
The government of cover-ups with its praetors, having burnt the forests last summer, is responsible for all major cities burning now, too. It protected financial criminals, all those involved in the mobile phone interceptions scandal, those looting the employees’ insurance funds, those kidnapping migrants, those who protected the banks and the monasteries that steal from the ordinary people.
We are in Civil War: With the fascists, the bankers, the state, the media wishing to see an obedient society.
There are no excuses, yet they once again try to use conspiracy theories to calm spirits down.
The rage that had accumulated had to be expressed and should not, by any means, end.
Throughout the world we are making headlines, it was about time that people uprise everywhere.
The generation of the poor, the unemployed, the partially employed, the homeless, the migrants, the youth, is the generation that will smash every display window and will wake up the obedient citizens from their sleep of the ephemeral American dream.
Don’t watch the news, consciousness is born in the streets
When the youth is murdered, the old people should not sleep
Goodbye Alexandros, may your blood be the last of an innocent to run
Uma Carta de Londres,
Dear all,
Over the past few days, you may have watched the news about the widespreadriots in Athens and other Greek cities, which were sparked by the killing of a15-year old boy by a police officer.
Now, I’m fairly sure most of you, quite understandably, don’t care thatmuch about the social problems of Greece.
But, on the other hand, I’m quite sure you do care about the quality of newsyou get from the rest of the world.
And, if this quality is reflected at all in recent “analyses” of thesituation in respected international media, like Malcolm Brabant’s in BBCOnline or John Carr’s in The Times, it is frustratingly low indeed.
Reading either of these pieces, one would form the idea that recent events arebased on a vague “historical” propensity of Greeks to rebel againstauthority –as if the furious demonstrators and the Molotov cocktails thrown atpolice stations over the past few nights are somehow directly linked to the warculture of the Spartans, or even –according to Mr Carr’s informed opinion-to the Trojan wars.
Alas, apart from The Land Of Stereotype, there is a place called the realworld.
And, in this world, Greek police can get away, literally, with murder. Time,and time, again. They can beat immigrants in police stations, without anyonebeing charged or detained. They are allowed, indeed encouraged, to nurture anattitude towards citizens based on force and suppression.
In this world, Greece suffers chronically from a deeply corrupt political andeconomic elite, which over the last few years has been constantly mired inscandals involving public money and even public land; but unashamedly refuses toeven apologize, let alone accept reform.
In this world, virtually every Greek under 25 knows that he or she belongs towhat has been widely termed “The 700-Euro generation”; the first generationafter WWII growing up with the firm knowledge that they will be worse off thantheir parents. A generation with little prospect for a better future, and evenless hope for it.
It is in this world –and not the one of archaeologically-inclinedcommentators- that a single bullet can set alight a rage that has been steadilybuilding up for years; and, on a cautiously positive note, begin a much-neededpublic soul searching of a whole country.
Of course, there is no point in asking you to do something about this. Butthere is a point in asking you to do something.
Next time you read about “senseless riots” in another country, please dopause for a moment to think of the things the journalistic eye fails to catch.
And please do remember that people don’t burn their own cities just becausethey have a bad national temper.
Thank you for your attention and have a happy new year.
P.
(http://exarchialx.blogspot.com)
Notícias:
Acções de solidariedade na Europa com o movimento anarquista grego
Manifestantes de outros países solidarizam com protestos na Grécia
"Alexis sepultado e nós nas ruas"
7.º dia de protestos na Grécia
Grèce: "Les jeunes harcèlent les policiers"
13-year old girl brutally arrested; murderer’s lawyer’s office attacked; high school students keep up the struggle and get targeted
Student Demonstration at Parliament
Parliament demo ends, retreats to occupied universities
Video from Patras, report from besieged Athens police stations
Artigos:
Angry young Greeks give wake up call to Europe - Daniel Flynn
La suerte de un país es cuestión de... suerte - Stelios Kuloglu
Jóvenes que no tienen miedo a nada - Noelia San Román
Entre tension et résignation - Sonia Faure, Véronique Soulé, Fabrice Tassel
A vif - Lauren Joffrin
«Nous sommes sur une poudrière» - Isabelle Sommier (entrevista de Pascal Virot)
Des Grecs unis par leurs colères - Marc Semo
Business unusual
What to expect tomorrow
A paz social paga-se cara
Observar os motins gregos a partir de Portugal apresenta-se como uma tarefa difícil. A facilidade com que milhares de pessoas enfrentam a polícia nas ruas, destroem bancos e atacam esquadras, ocupam escolas e incendeiam carros, parece surpeender a maioria dos comentadores. Da parte dos blogs de direita por exemplo, não se viu ainda qualquer comentário digno de registo. Da parte dos jornais, as explicações sociológicas são pouco mais do que primárias. E da parte da esquerda, por fim, o desconforto não se esconde.
No «Avante!» a coisa não merece grandes interpretações ou desenvolvimentos. Trata-se de uma «explosão social», mas que fundamentalmente diz respeito aos camaradas do KKE. Em todo o caso, Manuel Gouveia não quis perder a oportunidade de dar uma no cravo e outra na ferradura: Por um lado "Os comunistas não veêm o assassinato de Alexandros-Andreas Grigoropoulos como um acto isolado, vêem-no com o resultado «de uma orientação e educação das forças de segurança contra o povo, contra o movimento popular e operário, contra a luta da juventude», e enquadram as crescentes medidas repressivas do Estado «na ofensiva contra os direitos da juventude ao emprego com direitos e à educação». E responsabilizam o governo e as classes dominantes: «O seu objectivo é provocar o medo nos trabalhadores e na juventude».
Por outro:"Os comunistas não condenam a justa indignação popular. Alertam que «as pilhagens e o vandalismo não têm nada a ver com a luta do movimento popular, e que estas acções legalizam a violência e o autoritarismo, e são usadas como um alibi pelos governos para esconder o facto de que os alvos da repressão estatal são o movimento operário e popular».
Daniel Oliveira fala-nos de uma faísca e explica o que aconteceu: "Quando as instituições não respondem, a política passa para a rua".
O mais confuso é, como habitual, Miguel Portas: "As informações disponíveis indicam que à frente dos protestos violentos estejam grupos anarquistas e que a estes se associem jovens desempregados e revoltados, que pouco têm a ver com as universidades. Os acontecimentos estão a polarizar grupos de jovens radicalizados e/ou desesperados de um lado, e as forças de repressão do outro, deixando de fora a grande maioria dos estudantes. Quanto à greve, paralisou o país porque foi eficaz nos sectores estratégicos. Mas não foi por acaso que os sindicatos desconvocaram as manifestações que tinham previsto, para não serem apanhados na armadilha da violência."
Continua com uma análise que é todo um programa: "O Synaspismos, que na Grécia corresponde, grosso modo, ao Bloco de Esquerda em Portugal, solidarizando-se com os estudantes e criticando a actuação policial, considera que a possibilidade de resultados depende da recondução do protesto a formas de luta pacíficas e de massa. Este partido e a coligação de forças de esquerda radical a que pertence, é influente no movimento estudantil e encontra-se em crescimento eleitoral acentuado."
E acaba em grande: "O prolongamento da violência cruzada só interessa, neste momento, aos seus protagonistas. O risco, óbvio, é o de que a maioria da população passe da simpatia ou da passividade a uma exigência de mão dura e que o governo, que se encontrava nas lonas, acabe por recuperar posições através da intensificação da acção policial ou mesmo do exército."
Comecemos pela opinião de Manuel Gouveia, que é a do partido estalinista grego. Por um lado, a natureza repressiva da polícia grega tem como objectivo amedrontar os trabalhadores e a juventude, sendo a violência estrategicamente empregue e nada tendo de «acidental». Mas por outro, a resposta violenta a essa violência - ou seja, "as pilhagens e o vandalismo" - são um alibi para a repressão estatal. Note-se a batalha que aqui se trava contra a lógica: o que é inicialmente definido como um resultado da estratégia do governo transforma-se depois na consequência de actos de pilhagem e vandalismo. O ponto essencial desta análise reside numa formulação subtil - a "orientação e educação das forças de segurança contra o povo" - que cospe na cara da definição leninista do Estado para abrir a possibilidade de uma «orientação e educação das forças de segurança a favor do povo». No dia em que o KKE estiver no Ministério do Interior grego, os trabalhadores e a juventude poderão perder o medo. Um pouco como acontece na China. E até lá, cuidado com os «provocadores» que assustam a opinião conservadora e «objectivamente» facilitam o trabalho da repressão.
Passemos agora à formulação do Daniel. Os jovens queimam carros porque as instituições não dão respostas satisfatórias. Também aqui há um pressuposto que subtilmente emerge. Se tivesse havido uma resposta satisfatória das instituições, a política não teria passado para as ruas. E portanto, se não se quiser ver coisas destas a acontecer em Portugal, é bom que «as forças políticas», a «sociedade» e todas as outras expressões genéricas e dotadas de uma universalidade duvidosa, se «entendam», se «esforcem», «trabalhem em conjunto» enquanto há tempo. Há aqui um discurso que se dirige a uma concreta comunidade parlamentar e mediático. Uma conversa em família no seio do establishment, um «quem te avisa teu amigo é», um estado preventivo, um eco longínquo do célebre «Quem adia reformas prepara revoluções».
Por último, Miguel Portas. Há anarquistas «à frente» dos protestos (presume-se que não nos esteja a dizer que eles estão literalmente na parte da frente das manifestações e nas primeiras linhas do confronto, mas sim que estão a «comandar» a coisa), uma vez que «todos sabemos» que nada disto se faz sem existir alguém a mandar.
Os jovens estão «desesperados». Parece ser a mais idiota das afirmações possíveis numa situação destas. Quem está desesperado não faz nada e espera que a coisa passe. Haverá alguém na Grécia que corresponda a esta descrição? Sim, há o governo e a oposição.
Quem corre riscos, enfrenta a polícia e ocupa escolas dá provas de tudo menos de desespero. O que temos visto na Grécia na última semana tem sido, acima de tudo, determinação e uma aguda consciência de que isto se voltará a repetir regularmente se não houver uma resposta à altura.
Nada tenho de relevante a dizer acerca do crescimento eleitoral do equivalente grego do Bloco de Esquerda, a não ser que espero que ele seja reduzido. Fica esta reflexão estratégica de Miguel Portas segundo a qual a radicalização do confronto «objectivamente» faz o jogo da reacção. Para tanto, não seria necessário ter abandonado o PCP. É exactamente aquilo que dizia Álvaro Cunhal em 1974.
A desinformação da imprensa não é grave, porque podemos acompanhar os acontecimentos gregos através da internet e formar um pensamento próprio sobre o tema. Os factos parecem ser teimosos, uma vez que o conflito prossegue aberto e alargado a uma grande quantidade de pessoas. A solidariedade internacional também tem sido alargada e os sites com informações continuam a abrir. O que se passa na Grécia diz-nos respeito a todos, porque se trata de um acontecimento da história universal a desenrolar-se sobre os nossos olhos, em que um Estado perde, de facto, o controlo momentâneo sobre o seu território e o estéril debate sobre legalidade e ilegalidade sai da sua órbita habitual. Há donas de casa a queimar bancos, há cinquentenários a lançar cocktails molotovs, há adolescentes a cercar esquadras. O habitual jogo semântico de destacar do seio de um movimento social o punhado de «violentos», «extremistas», «vândalos», «desordeiros» tornou-se impraticável, porque a revolta nas cidades gregas há muito ultrapassou essas dimensões. E falar de uma predisposição natural dos gregos para a luta de rua também não parece explicar o que se passa. As tradições e experiências de luta anteriores são sem dúvida importantes, mas fica por provar que a sociedade grega seja mais violenta, por exemplo, do que a sociedade portuguesa. Parece legítimo afirmar que ela é menos obediente e conformista.
200 milhões de euros, segundo uma estimativa cautelosa. Os prejuízos de uma revolta podem agora ser rigorosamente contabilizados e todos passámos a saber o preço da paz social. Eis uma contabilidade mais difícil de ocultar do que os activos financeiros do BPN.
(http://www.spectrum.weblog.com.pt/)
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La lista de víctimas de violencias y atropellos policiales no tiene fin
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