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Gran manifestación estudiantil en Atenas contra las reformas universitarias y el terrorismo del estado
Testemunhos:
Diário de Atenas V
Dia 5
“Não temos medo dos despedimentos. Os patrões devem ter medo das greves selvagens”
Escrevo do Sindicato dos Jornalistas, onde há net. É o sindicato único do sector, com uma direcção de direita. Acaba de ser ocupado. No terceiro andar, o auditório junta cerca de duzentas pessoas em assembleia. No comunicado dos ocupantes, jornalistas precários, afirmam-se três reivindicações: o direito a dar informação verdadeira sobre os acontecimentos, contra a manipulação do poder e dos patrões dos órgãos de comunicação social; a solidariedade com Constantina Couneva, a sindicalista precária vítima de um ataque com ácido sulfúrico; a luta contra a precariedade instalada no sector.
Ordem para abater
Pela televisão que está ligada no bar do sindicato, o Governo avisa que polícia vai endurecer a reacção. Na sequência da batalha de ontem, o tema dos telejornais é o fim do asilo de que goza a Universidade – um direito do maior simbolismo numa sociedade que assistiu à repressão e ao esmagamento dos protestos no Politécnico pela ditadura dos coronéis.
Qualquer semelhança com a (nossa) realidade não é pura coincidência
1 em cada 5 jovens gregos está desempregado. 5 a 7 anos depois da sua graduação, os jovens gregos têm maioritariamente empregos precários. 20% com contratos temporários, outros 20% a trabalhar como isolados (o equivalente aos recibos verdes) e sem direitos sociais. Muitos trabalham em áreas totalmente diferentes das dos seus estudos e em tarefas para as quais estão sobrequalificados. Cerca de 300 mil trabalham em estágios pagos pela União Europeia: as empresas não gastam um euro com eles, o tempo de trabalho não conta para a segurança social e ganham 470 euros por mês. O Estado é um dos mais activos empregadores de precários: em 2007, só 30% dos novos trabalhadores no sector público tinha contrato permanente, sendo a maioria trabalhadores temporários. A inspecção do trabalho não actua e diz-nos um sindicalista que se tiver 100 inspectores para todo o país será já muito...
Lá vêm os radicais de esquerda...
“Os nossos jovens não estão revoltados por nada. A juventude não só sente as limitações do presente que nós – os seus pais naturais ou institucionais – lhes damos, mas também protestam pelo roubo e pela destruição do seu futuro (...) A resposta para todos os problemas com que a juventude se confronta não é a aceitação do vandalismo. Mas também não é a repressão de qualquer protesto. O protesto é uma necessidade e um direito”.
A frase não é de nenhum “esquerdista”. Nem de nenhum “intelectual radical” alimentado pelo “ódio à democracia liberal” ou por “tentações totalitárias”. Nem de nenhum “irresponsável” sempre disposto a “legitimar a violência” dos protestos. Nem de nenhum “sociólogo” sempre disponível para “compreender as razões” do fenómeno e atribuir a causa das coisas à sociedade e às escolhas políticas e económicas. Não. É uma declaração pública de Ieronimos, Arcebispo de Atenas e da Grécia, o chefe máximo da Igreja Ortodoxa neste país.
Definição de violência 2
Amanhã haverá outra manifestação em Atenas. É um protesto e uma lembrança. Husein Zahidul tinha 24 anos e era imigrante. Na Grécia, um imigrante que queira legalizar-se e ter os seus documentos não vai ao registo civil ou a um Ministério, como as outras pessoas. Tem de fazê-lo na polícia e só durante um dia por semana – o sábado. Os imigrantes costumam ir para lá na véspera e passar lá a noite. É também na polícia que os imigrantes clandestinos são detidos. E, frequentemente, vítimas de negligência e de violência. A Grécia recebe milhares de imigrantes vindos dos Balcãs, do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão e de outros países. A maior parte deles está ilegal. A Grécia é ainda, e como a Amnistia Internacional tem chamado a atenção, o país da Europa que concede menos estatutos de refugiado. Entre 2003 e 2006, 40 mil pessoas pediram aqui asilo. Só 410 foram reconhecidos como tal.
Husein não estará amanhã na rua connosco. Morreu no sábado passado, 3 de Janeiro. Foi encontrado numa vala, antigo leito de um rio que já não existe e que fica em frente da esquadra da polícia. A polícia, essa, diz que foi ele que se atirou. É o terceiro nos últimos meses.
Zé Soeiro
via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-v.html
Gran manifestación estudiantil en Atenas contra las reformas universitarias y el terrorismo del estado
Testemunhos:
Diário de Atenas V
Dia 5
“Não temos medo dos despedimentos. Os patrões devem ter medo das greves selvagens”
Escrevo do Sindicato dos Jornalistas, onde há net. É o sindicato único do sector, com uma direcção de direita. Acaba de ser ocupado. No terceiro andar, o auditório junta cerca de duzentas pessoas em assembleia. No comunicado dos ocupantes, jornalistas precários, afirmam-se três reivindicações: o direito a dar informação verdadeira sobre os acontecimentos, contra a manipulação do poder e dos patrões dos órgãos de comunicação social; a solidariedade com Constantina Couneva, a sindicalista precária vítima de um ataque com ácido sulfúrico; a luta contra a precariedade instalada no sector.
Ordem para abater
Pela televisão que está ligada no bar do sindicato, o Governo avisa que polícia vai endurecer a reacção. Na sequência da batalha de ontem, o tema dos telejornais é o fim do asilo de que goza a Universidade – um direito do maior simbolismo numa sociedade que assistiu à repressão e ao esmagamento dos protestos no Politécnico pela ditadura dos coronéis.
Qualquer semelhança com a (nossa) realidade não é pura coincidência
1 em cada 5 jovens gregos está desempregado. 5 a 7 anos depois da sua graduação, os jovens gregos têm maioritariamente empregos precários. 20% com contratos temporários, outros 20% a trabalhar como isolados (o equivalente aos recibos verdes) e sem direitos sociais. Muitos trabalham em áreas totalmente diferentes das dos seus estudos e em tarefas para as quais estão sobrequalificados. Cerca de 300 mil trabalham em estágios pagos pela União Europeia: as empresas não gastam um euro com eles, o tempo de trabalho não conta para a segurança social e ganham 470 euros por mês. O Estado é um dos mais activos empregadores de precários: em 2007, só 30% dos novos trabalhadores no sector público tinha contrato permanente, sendo a maioria trabalhadores temporários. A inspecção do trabalho não actua e diz-nos um sindicalista que se tiver 100 inspectores para todo o país será já muito...
Lá vêm os radicais de esquerda...
“Os nossos jovens não estão revoltados por nada. A juventude não só sente as limitações do presente que nós – os seus pais naturais ou institucionais – lhes damos, mas também protestam pelo roubo e pela destruição do seu futuro (...) A resposta para todos os problemas com que a juventude se confronta não é a aceitação do vandalismo. Mas também não é a repressão de qualquer protesto. O protesto é uma necessidade e um direito”.
A frase não é de nenhum “esquerdista”. Nem de nenhum “intelectual radical” alimentado pelo “ódio à democracia liberal” ou por “tentações totalitárias”. Nem de nenhum “irresponsável” sempre disposto a “legitimar a violência” dos protestos. Nem de nenhum “sociólogo” sempre disponível para “compreender as razões” do fenómeno e atribuir a causa das coisas à sociedade e às escolhas políticas e económicas. Não. É uma declaração pública de Ieronimos, Arcebispo de Atenas e da Grécia, o chefe máximo da Igreja Ortodoxa neste país.
Definição de violência 2
Amanhã haverá outra manifestação em Atenas. É um protesto e uma lembrança. Husein Zahidul tinha 24 anos e era imigrante. Na Grécia, um imigrante que queira legalizar-se e ter os seus documentos não vai ao registo civil ou a um Ministério, como as outras pessoas. Tem de fazê-lo na polícia e só durante um dia por semana – o sábado. Os imigrantes costumam ir para lá na véspera e passar lá a noite. É também na polícia que os imigrantes clandestinos são detidos. E, frequentemente, vítimas de negligência e de violência. A Grécia recebe milhares de imigrantes vindos dos Balcãs, do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão e de outros países. A maior parte deles está ilegal. A Grécia é ainda, e como a Amnistia Internacional tem chamado a atenção, o país da Europa que concede menos estatutos de refugiado. Entre 2003 e 2006, 40 mil pessoas pediram aqui asilo. Só 410 foram reconhecidos como tal.
Husein não estará amanhã na rua connosco. Morreu no sábado passado, 3 de Janeiro. Foi encontrado numa vala, antigo leito de um rio que já não existe e que fica em frente da esquadra da polícia. A polícia, essa, diz que foi ele que se atirou. É o terceiro nos últimos meses.
Zé Soeiro
via http://canardlibertaire.blogspot.com/2009/01/dirio-de-atenas-v.html
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