Impressões
Comunicado da Ocupação da Sede Sindical
(dia 17 um grupo de trabalhadores ocupou a sede da confederação sindical. esta é a sua declaraçã)
Nós, trabalhadores manuais, empregados, desempregados, trabalhadores temporários, locais ou imigrantes, não somos telespectadores passivos. Desde o assassinato de Alexandros Grigoropoulos na noite do sábado temos participado nas manifestações, nos confrontos com a polícia, nas ocupações no centro e nos bairros. Uma e outra vez tivemos que deixar o trabalho e nossas obrigações diárias para tomar as ruas com os alunos do secundário, os estudantes universitários e os demais proletários em luta.
DECIDIMOS OCUPAR A SEDE DO GSEE (Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos)
-Para convertê-lo em um espaço de liberdade de expressão e um ponto de encontro para os trabalhadores
-Para desmentir a falácia espalhada pelos meios de comunicação que nos situa, aos trabalhadores, à margem dos confrontos, e que mostra a raiva de estes dias como o assunto de aproximadamente 500 "encapuzados", "hooligans" ou qualquer outra invenção, enquanto os écrans de televisão nos apresentam como vítimas do confronto, enquanto a crise capitalista na Grécia e no mundo inteiro dá lugar a incontáveis despedimentos que os meios de comunicação e seus gestores tratam como um "fenómeno natural"
-Para combater e desmascarar o papel da burocracia sindical na sabotagem da insurreição, e não só aí. O GSEE e todo o mecanismo sindical no qual se tem apoiado durante décadas e décadas, sabota as lutas, negocia nossa força de trabalho por migalhas e perpetua o sistema de exploração e escravidão assalariada. A postura do GSEE da quarta-feira passada é bastante reveladora: o GSEE cancelou a manifestação de trabalhadores que estava programada, acabando de repente a organização de uma pequena reunião na praça Syntagma, procurando assegurar deste modo que as pessoas se afastassem o mais rápido possível da praça, já que temiam que os trabalhadores nos víssemos infectados pelo vírus da insurreição.
-Para abrir este espaço pela primeira vez -como uma continuação da abertura social gerada pela própria insurreição -, um espaço construído com nossas contribuições, e do qual fomos excluídos. Durante todos
estes anos confiamos nossos destinos em salvadores de todo o tipo, e terminamos perdendo nossa dignidade. Como trabalhadores devemos começar a assumir nossas responsabilidades, e deixar de ceder nossas
esperança a bons líderes ou representantes "aptos". Devemos ter a nossa própria voz, encontrar-nos e reunir-nos, falar, decidir, e actuar. Contra o ataque generalizado que suportamos. A criação de resistências colectivas "de base" é o único caminho.
-Para propagar a ideia do auto-organização e a solidariedade nos postos de trabalho, os comités de luta e as práticas colectivas desde a base, abolindo os burocratas sindicais.
-Todos estes anos aguentamos a miséria, a resignação, a violência no trabalho. Chegamos a acostumar-nos a contar os mutilados e os nossos mortos -os incorrectamente chamados "acidentes de trabalho". Acabamos
acostumando-nos a olhar para o outro lado ante a morte dos imigrantes -nossos companheiros de classe-. Estamos cansados de viver com a ansiedade de termos que assegurar um salário, de pagar uns impostos, e uma pensão de reforma que agora parece um sonho distante.
Tal como lutamos para não abandonar as nossas vidas nas mãos dos chefes e dos representantes sindicais, do mesmo modo não abandonaremos os rebeldes detidos nas mãos do estado e do sistema jurídico.
DECIDIMOS OCUPAR A SEDE DO GSEE (Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos)
-Para convertê-lo em um espaço de liberdade de expressão e um ponto de encontro para os trabalhadores
-Para desmentir a falácia espalhada pelos meios de comunicação que nos situa, aos trabalhadores, à margem dos confrontos, e que mostra a raiva de estes dias como o assunto de aproximadamente 500 "encapuzados", "hooligans" ou qualquer outra invenção, enquanto os écrans de televisão nos apresentam como vítimas do confronto, enquanto a crise capitalista na Grécia e no mundo inteiro dá lugar a incontáveis despedimentos que os meios de comunicação e seus gestores tratam como um "fenómeno natural"
-Para combater e desmascarar o papel da burocracia sindical na sabotagem da insurreição, e não só aí. O GSEE e todo o mecanismo sindical no qual se tem apoiado durante décadas e décadas, sabota as lutas, negocia nossa força de trabalho por migalhas e perpetua o sistema de exploração e escravidão assalariada. A postura do GSEE da quarta-feira passada é bastante reveladora: o GSEE cancelou a manifestação de trabalhadores que estava programada, acabando de repente a organização de uma pequena reunião na praça Syntagma, procurando assegurar deste modo que as pessoas se afastassem o mais rápido possível da praça, já que temiam que os trabalhadores nos víssemos infectados pelo vírus da insurreição.
-Para abrir este espaço pela primeira vez -como uma continuação da abertura social gerada pela própria insurreição -, um espaço construído com nossas contribuições, e do qual fomos excluídos. Durante todos
estes anos confiamos nossos destinos em salvadores de todo o tipo, e terminamos perdendo nossa dignidade. Como trabalhadores devemos começar a assumir nossas responsabilidades, e deixar de ceder nossas
esperança a bons líderes ou representantes "aptos". Devemos ter a nossa própria voz, encontrar-nos e reunir-nos, falar, decidir, e actuar. Contra o ataque generalizado que suportamos. A criação de resistências colectivas "de base" é o único caminho.
-Para propagar a ideia do auto-organização e a solidariedade nos postos de trabalho, os comités de luta e as práticas colectivas desde a base, abolindo os burocratas sindicais.
-Todos estes anos aguentamos a miséria, a resignação, a violência no trabalho. Chegamos a acostumar-nos a contar os mutilados e os nossos mortos -os incorrectamente chamados "acidentes de trabalho". Acabamos
acostumando-nos a olhar para o outro lado ante a morte dos imigrantes -nossos companheiros de classe-. Estamos cansados de viver com a ansiedade de termos que assegurar um salário, de pagar uns impostos, e uma pensão de reforma que agora parece um sonho distante.
Tal como lutamos para não abandonar as nossas vidas nas mãos dos chefes e dos representantes sindicais, do mesmo modo não abandonaremos os rebeldes detidos nas mãos do estado e do sistema jurídico.
LIBERTAÇÃO IMEDIATA SEM ACUSAÇÃO DOS DETIDOS
AUTOORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES
GREVE GERAL
ASSEMBLEIA DE TRABALHADORES DO EDIFÍCIO "LIBERTADO" DO GSEE
Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2008, às 18 horas
Assembleia Geral de Trabalhadores Insurgentes
(http://www.midiaindependente.org)
Carta aos estudantes escrita por trabalhadores atenienses
Nossa diferença de idade e o distanciamento geral nos dificultam discutir com vocês nas ruas; esta é a razão por que nós mandamos esta carta.
A maioria de nós ainda não está careca, nem nos pintou uma barriguinha. Somos parte do movimento de 1990-91. Devem ter ouvido falar dele. Naquele momento, quando havíamos ocupado nossas escolas durante 30-35 dias, os fascistas mataram um professor porque foi mais além da sua função natural (o de ser nosso guardião) e cruzou a linha que levava ao lado oposto: veio conosco, para nossa luta.
Então, até o mais brando de nós foi às ruas nos distúrbios. Sem dúvida, nós nem sequer pensamos em fazer o que tão facilmente fazem vocês hoje: atacar delegacias (ainda que cantávamos aquilo de "queimar delegacias...").
Assim francamente, vocês foram muito mais além que nós, como ocorre sempre na história. As condições são diferentes, é claro. Nos anos 90 nos compraram com a desculpa do êxito pessoal e alguns de nós nos entregamos. Agora as pessoas não acreditam neste conto de fadas. Vossos irmãos maiores nos demonstraram durante o movimento estudantil de 2006-07. Vocês agora lhes cuspam seu conto de fadas na cara.
Agora começam as boas e difíceis questões
Para começar, lhe dizemos que o que temos aprendido de vossas lutas e de nossas derrotas (porque ainda que o mundo não seja nosso, sempre seremos perdedores) e podem empregar o que temos aprendido como queiram:
Não fiquem sós. Chamem-nos; chamem a tanta gente como seja possível. Não sabemos como podeis fazê-lo, encontrarão a forma. Já ocuparam vossas escolas e nos dizem que a razão mais importante é que não gostam delas. Bem. Já que ocuparam, invertam o rol de prioridades. Troquem vossas ocupações com outras pessoas. Permitam que vossas escolas sejam o primeiro lugar para nossas novas relações. Sua arma mais potente é nossa divisão. Tal e como vocês não temeram atacar as delegacias porque estão unidos, não temam chamar-nos para mudar nossas vidas, todos juntos.
Não escutem nenhuma organização política (nem anarquista nem outra qualquer). Façam o que necessitem. Confiem no povo, não em esquemas e idéias abstratas. Confiem em vossas relações diretas com as pessoas. Confiem em vossos amigos: façam da vossa luta a de quanto mais gente for possível, vossa gente. Não lhes dêem ouvidos quando te disseres que vossas lutas não têm conteúdo político e que deveriam obtê-lo. Vossa luta é o conteúdo. Tão só tenham vossa luta e está em vossas mãos assegurar o seu avanço. Tão só ela pode mudar vossa vida, a vocês e as relações reais com vossos companheiros.
Não temam atuar quando enfrentarem coisas novas. Cada um de nós, agora que nos fazemos maiores, têm algo semeado em seu cérebro. Vocês também, ainda que sejam jovens. Não esqueçam a importância deste fato. Em 1991, nos enfrentamos com o cheiro de um novo mundo e, acredite-nos, o encontramos difícil. Havíamos aprendido que sempre deve haver limites. Não temam a destruição de mercadorias. Não se assustem ante os saques de lojas. O fazemos porque é nosso. Vocês (como nós no passado) foram criados para levantarem todas as manhãs visando fazer coisas que mais tarde não serão vossas. Recuperemo-las e compartamo-las. Tal e como fazemos com nossos amigos e o amor.
Pedimos desculpas para vocês por escrever esta carta tão rapidamente, mas fazemos isso ao ritmo do trabalho, em segredo para evitar que dela se intere o chefe. Somos prisioneiros no trabalho, como vocês na escola.
Agora mentiremos aos nossos chefes e deixaremos o trabalho: reunir-nos-emos com vocês em Syntagma com pedras nas mãos.
Proletários
(http://www.midiaindependente.org)
Excerto duma carta do P., um amigo italiano em Atenas.
Atenas, 2008.12.15
Olá pa,
Pus o cartão italiano no telemóvel e vi a tua mensagem. Não te preocupes: estou bem. A falta de notícias è devida à impossibilidade de encontrar o lugar e o tempo para escrever-te, mas como se preocupam para mim, eis as news:
[...]
A situação vai-se normalizando (logo te explico o que isso quer dizer). Já não há as grandes batalhas, as devastações e os saqueios dos primeiros dias. Começa-se a reconstruir. A cidade lembra-me um bosque dos nossos vales [do norte da Itália] antes da primavera, quando todas as árvores estão ainda completamente desfolhadas e só as cerejeiras já florescidas se distinguem, destacam-se por seus fatos brancos. Ora, Atenas é igual pelos prédios queimados. Não são muitos mas dão nas vistas; de vez em quando um aparece à esquina... uma loja de carros, om banco, um supermercado. Um meu amigo disse-me que acha graça perguntar-se quantos destes esqueletos não estivessem assim antes da revolta; até descobrir que nem anteriormente a situação era cor-de-rosa... E isto explica muitas coisas.
Os últimos choques espalhados aconteceram sábado na ocasião da primeira semana depois do assassinato. Uma manifestação logo atrás da outra, choques no bairro Gazi e na Exarchia com a utilização abundante de fogos artificiais pelos manifestantes, muitas concentrações pacíficas e manifestações espontâneas durante todo o dia e toda a noite.
Eu andei ao calhas como um pião até me juntar a uma marcha espontânea de pessoas que voltavam para o centro. É desaconselhável circular sozinho enquanto ocorrem acções... Não há do que ter medo mas a polícia segreda e os fascistas são uma realidade e podes vê-los divagarem à volta das marchas e das faculdades. A marcha em que estava invadiu a rua, mas, embora se mantivesse quase totalmente pacífica, foi parada pela polícia que cortou a passagem à frente e atrás. Consegui fugir com outro menino até o ASOE, um covil anárquico.
Lá soubemos que 37 pessoas foram bloqueadas pela manobra da polícia e presas. Os anárquicos decidiram então responder queimando um banco. Prontos e armados saíram do ASOE, mas voltaram logo depois quando um cocktail molotov entrou por engano numa casa. Quase acabaram por bater-se. Então fui para casa: do meu ponto de vista a coisa está a perder-se. Concretamente as manifestações estão nas mãos dos anárquicos do ASOE e do Politécnico, mas são acções escolhidas, assaltos a bombas de gasolina e rápidos raids incendiários contra bancos ou objectivos governamentais como ministérios ou esquadras da polícia. A resistência já não é difundida e de todas as maneiras segue pacífica, contudo as manifestações continuam sem parar.
Além da crónica.
A situação está "normalizada", como já te disse, numa completa anormalidade.O facto de não haver saqueios em todo lado não significa que tudo esteja como dantes. O clima que se respira, o ar é diferente. Vê-se em muitas pequenas coisas. Realmente pode-se ir trabalhar de manhã, mas os semáforos foram quase todos totalmente destruídos. Consegues imaginar uma metrópole do tamanho de Atenas, com 5 ou 6 milhões de habitantes, caótica e desordenada como Atenas sabe ser, sem código da estrada? Isto significa que deslocar-se do ponto A até o ponto B da cidade pode demorar um tempo indeterminado que pode mudar de várias horas segundo o dia ou o momento... E nem falo sequer das marchas contínuas.
Ninguém atreve-se a intervir em nada. Adolescentes que devastam cabines telefónicas ou queimam multi-bancos... e ninguém diz nada... nem sequer a polícia.Os polícias andam só em grupos, todos juntos, mas nunca intervêm. Têm medo, só esperam para o turno acabar e as pessoas sabem, todos sentem-no. Cada um faz o que quer, desde atravessar onde é proibido até atirar-lhes lixo em cima.
Só para te dar um exemplo. Ontem pelo centro passou um Porsche. Um homem que estava a atravessar (um homem normal - nos 40 - de fato e com mala) parou, recolheu uma pedra e ...atirou-lha!
Nada de transcendente, percebes? Mas a gente está a acostumar-se ao absurdo.
O ASOE, quase todos os dias, faz irrupção num supermercado e leva tudo para abastecer a cantina auto-gerida e gratuita... Isto poderia continuar durante muito tempo.
O custo da vida é altíssimo, os ordenados dos mais baixos na Europa. Já ninguém acredita no conto para crianças da democracia.
Costuma-se considerar a Grécia como algo "fora" da Europa, como choques no Líbano ou sei lá... Pode-se pensar o que se quiser, mas a Grécia está na Europa. Eu vivo aqui, fogo! Talvez seja um nervo destapado, mas faz parte do nosso sistema democrático. O que está a acontecer aqui leva a reflexões que deveriam envolver-nos a todos sobre o nosso sistema de governo a colapsar, até os EUA sentiram a necessidade estética de limpar-se a cara através da eleição do Obama.
A separação entre estado e cidadãos aqui é concreta.. podemos respirá-la no ar. A hostilidade das pessoas contra os polícias (deveriam ser os nossos anjos de guarda, mas aqui obviamente ninguém acredita)... O que se diz na Itália - os polícias são servos dos servos, o poder replica-se a si mesmo, o objectivo da política é o obter votos, etc. - aqui vê-se em concreto, devido a problemas estruturais gravíssimos que primeiramente a Grécia já não consegue esconder.
O mesmo que, de maneira mais subtil, se perpetua em cada país ocidental; e deveria fazer reflectir que o incêndio esperava, há anos, por baixo das cinzas assim como em cada subúrbio da Europa. Mas a centelha explodiu de repente, em poucas horas e sem nenhum aviso prévio.
Como se acostuma dizer... O rei está nu...
E agora?
(http://exarchialx.blogspot.com)
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